26 de outubro de 2012

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Como é que eu cheguei até aqui? Nunca achei que fosse real, e no entanto agora tenho a certeza. A culpa foi minha, deixei me envolver, fui fraca, achei piada à ideia, na verdade sempre achei piada e não sei porquê, era suposto evitar, era suposto ignorar, talvez se nunca tivesse acontecido aquilo nunca estaria onde estou. Nunca estaria aqui em pé diante deste abismo e pronta para saltar, pronta para expor o interior do meu corpo esmagado no chão, e o sangue e a minha impotência. Isto significa que nunca mais serei a mesma, nunca mais. Nunca mais, nunca mais. Que merda, porquê? porque é que fui tão vulnerável? Não há volta a dar, já está, este texto está a ser escrito, é a prova de que está a acontecer. Felizmente ele ficou para trás, quase três anos depois, consegui largá-lo, consegui seguir em frente, e sei hoje que nunca mais vou andar para trás, porque o desprezo, porque não chego a ter pena dele, porque ele está velho, porque eu o envelheci com a minha mente, porque ele viveu anos dentro dela... Largar, é tão bom fazê-lo e é tão chato quando o outro não faz o mesmo, não te deixa andar e leva-te a olhar para ele para confirmar que larga as amarras. Que porcaria de sentimento, que nojo, este nó, esta ambiguidade, estes dilemas...a paz não existe, pelo menos não no meu dicionário...a minha mente está em eterna pesquisa, é uma máquina que roda tão rápido que às vezes não consigo perceber aquilo que ela me diz.

18 de outubro de 2012

Visita guiada a um dia mau

Não me apetece fazer sentido. Chorar, chorar. Os meus olhos fecham-se, revejo a mesma imagem, muitas vezes, agitada, desfocada agora, uma voz, que bela voz, que cara de parva, que estupidez, tantas expectativas, tanta desilusão. Tanto mal, tanta dor, poucas lágrimas... É sempre assim, que vida mais previsível, e no entanto é sempre um choque... E acontece com tudo, com todos, a todos. Não existe, a harmonia não existe. Nunca há um equilíbrio real, é sempre tão frágil, tão fraco, tão pequeno... Doí-me, doí-me muito. Perco as forças, perco-me ao perdê-las. Onde foi a motivação? Hey tu, viste-a?! Eu preciso dela para não adormecer, para não me deixar levar, para não me enterrar. Pessoas, o que me fizeram hoje? Quem é que me deixou neste estado? Foste tu? Sim tu que estás a ler... Ao leres isto alivias a minha mágoa, fazes-me sentir melhor, menos desinteressante, menos passada..
Estou tonta de tanta dor, estou afim de adormecer, estou quase a ignorar o mundo, fugir aos problemas, e a deixar-me ir, quiçá amanhã esteja sol...quiçá não... Tanto faz, tanta é a saturação que nem me canso a pensar, agora é mesmo dormir para não pensar mais. Mas é de noite, está frio, está a chover, estou sozinha, estou destroçada, no entanto inspirada. Está um cenário tão bom para escrever, mas para quê? para quem? Já acabou, não há mais nada, não há mais ninguém.

13 de outubro de 2012

Infância

Família, casa cheia, crianças aos berros, jantar à mesa, fins de semana em família, dias de sol, crepes, bolos ou biscoitos de manteiga, férias num resort com pais e amigos, programas às vezes chatos como ir ao horto ou ao museu, mas no fim só havia uma coisa: a felicidade.
Fui buscar estas imagens ao poço das minhas recordações, um poço bem profundo onde as encontrei disfarçadas por algas e gastas pelo tempo. Foi há tanto tempo, é tão difícil pensar nesse período da minha vida como sendo real, é tão utópico, tão fascinante... Quando é que a minha vida se apartou de tudo isto? Quando é que a solidão chegou? Não consigo fixar um momento, não me lembro de quando é que comecei a ser independente. Sei que foi muito cedo mas não sei como é que obtive tanta independência de uma só vez. Não censuro ninguém, sei que me deu força, no entanto quando olho para esses dias da-me uma súbita vontade de chorar, de chorar mas ao mesmo tempo de sorrir porque aconteceu e porque foi tão bonito! Mas foi curto. Mudar de casa foi sem duvida aquilo que despertou em mim esta nostalgia, foi a primeira vez que vivi noutro sitio, e é a primeira vez que valorizo o sitio anterior, não porque gostava de voltar mas porque é a minha casa, foi lá que eu cresci e não importa quantas modificações se fizeram ao longo dos anos, aquela casa nunca deixou de ser a minha casa. É lá que eu me sentia segura, quando estávamos lá todos, quando ela não estava abandonada a estranhos, quando éramos muitos e felizes. Quando não usávamos só dois quartos, a cozinha e a sala. Quando íamos para o sótão, quando comíamos na sala de jantar, quando ligávamos a lareira e os aquecimentos, quando era a nossa casa e quando essa casa estava cheia. Não há coisa pior do que ter uma casa grande só para duas pessoas, pois no momento em que uma delas se encontra sozinha lá dentro, há um súbito sentimento de vazio que cresce. E tudo nos assusta, e tudo nos faz falta.
Tive uma infância muito recheada, mas que desapareceu sem que eu desse por isso. Estou a alguns meses de acabar o liceu, mais uma casa que terei de deixar, mais uma coisa boa que ficará para trás. E assusta-me porque eu não conheço mais nada, e acima de tudo porque eu não estou pronta para conhecer, estou feliz onde estou... Estou a alguns meses de ser adulta, de ser responsável, de me entregar por completo à solidão. Não será a vida adulta uma fonte de melancolia? Não quero crescer, mãe, não quero deixar de estar ao colo ou de fazer o embrulhinho, quero voltar a ir para praia dentro de um cesto... Não é mais ele quem eu quero...aliás, tomara que eu nunca mais amasse...



8 de outubro de 2012

La vie

Nascemos, brincamos e um dia somos lançados para a vida, desarmados, perdidos, desorientados. Não temos apoio, não temos bases, estamos sós diante do desafio que é a vida. Temos de criar tudo por nós próprios, temos de construir o nosso futuro e assusta-nos pensar que aqueles tempos felizes não voltarão. Vamos para a Universidade, saímos de casa, os fins de semana são passados em constante bebedeira, no entanto as festas de anos não são daquelas com rebuçados no fim mas com vomitado em cima. Sentimos-nos fortes, achamos que já somos independentes, tomamos decisões erradas, caímos, levantamos-nos e voltamos a tropeçar. Ficamos feridos e só queremos o colo da nossa mãe, daquele ser que nos protege e nos faz sentir amados, e mais uma vez acordamos para a realidade e percebemos que estamos sós, que afastámos todos porque não soubemos lidar com as diversas situações e arfamos, o nosso mundo pára e pedimos a Deus que nos leve de volta para aqueles tempos em que eram os nossos país que traziam o dinheiro para casa. Estamos desesperados, pensamos ter encontrado o amor da nossa vida, casamos-nos, temos filhos e um dia o amor acaba, e ficamos com dois filhos pendurados, sentimos que deixámos passar a nossa vida ao lado só para os criar, e o nosso marido sai de casa, os nossos filhos crescem e tornam-se independentes, não suportamos o facto de eles não nos quererem, tentamos fecha-los em casa mas eles querem voar, um dia lá temos nós de abrir a porta e de os deixar sair. Estamos sós, arranjamos um namorado, mas não presta, nesta idade é difícil encontrar um homem decente, passamos a outro, e mais um, até que finalmente acertamos não porque amamos mas porque sem ele nos sentimos sós. Tentamos agora reaver a vida que nos escapou, mas é tarde, já ninguém nos quer, acham que somos demasiado velhos para conseguir, os filhos empurram-nos para um lar, contrariados vamos. Deparamos-nos todos os dias com homens e mulheres que julgamos serem mais velhos do que nós, nunca admitimos que possamos estar nesse estado, e um dia a doença encontra-nos, nós não choramos, estamos apáticos aguardando o momento. Os filhos estão a nosso lado e choram, até que os nossos olhos se fecham. Nesse momento alguém nasce, alguém brinca e um dia é lançado para a vida, desarmado, perdido e desorientado.

A pequenez da minha cidade

Por entre os estores da minha janela,
Avisto ao longe uma velhinha na varanda,
Debruçada nela,
Olhando para um menino que anda
Por ai mendigando a quem passa.
Por sua vez aparece um senhor,
Com hálito a cachaça,
Que pensando fazer um favor,
Da à criança um cigarro.
Ao assistir à situação,
Um policia julgando tratar-se de um charro,
Da ao senhor um sermão.
O senhor não ouve e repara num passarinho,
Que voa voa voa,
Pousando no ombro do meu vizinho,
Que percorreu toda Lisboa,
Que viu uma infinidade de rostos,
E um desses conhecia-me a mim,
Ou à velhinha dos desgostos.







1 de outubro de 2012

Eis mais um dilema

Entrego-me à solidão, estou impaciente, irrequieta, não tenho obrigações, não tenho ninguém a quem ligar pois sei que todos estão ocupados. Entrego-me às copas, jogo contra os maiores ícones da literatura portuguesa, jogo com eles sabendo que nunca estarei à altura deles, sabendo que mesmo que ganhe nas copas, nunca ganharei nos versos.
Estou desmotivada, encontro-me sentada na varanda do meu quarto admirando a noite, vendo as pessoas passarem e pensando nas vidas que elas levam. No fundo não me interessa a menos que seja benéfico para mim. Estou exausta, a minha cabeça está cheia, tenho um dilema dentro de mim que não me deixa respirar. Quero decidir mas sempre que o faço mil e um pensamentos me vêm à cabeça e matam as minhas certezas, há tanta coisa a pesar, talvez porque amei, ou devo dizer "amo", quem saberá se nem eu o sei? São perguntas atrás de perguntas, são duas vozes que se contradizem, não é o diabo e o anjo, é apenas o racional e o emocional. Mas como escolher entre duas coisas tão opostas? Duas coisas que pesam tanto na balança...e nenhuma delas o suficiente para desequilibrá-la. Quero um meio termo, mas o meio termo é onde estou e onde estou não me está a ajudar, traz-me mais dor e provoca em mim um sufoco insustentável.  Só gostava que alguém decidisse por mim, gostava de não ter de ser eu a tomar esta decisão, talvez assim nunca me arrependesse e não fizesse desse erro o pior dos venenos.
Acho que apesar de tudo ele será sempre Aquele, e com ou sem Ele vou sempre usar a sua figura como a alegoria do amor impossível, vou sempre pensar nele quando quiser chorar, vou sempre esmiuçar cada detalhe para me mutilar, vou-me sempre agarrar a essa ilusão, vou me sempre achar mais baixa e vou-me sempre culpar por não o ter.
No entanto uma vez tido não cumpre com as expectativas, o que é normal visto que ele é humano (por muito que muitas me esqueça). Já não há chama, já não há aquela sede de estar com ele, já não há recantos escondidos pelos quais me possa apaixonar, ele é tão banal como o meu rosto reflectido num espelho. Não há nada de novo se não uma borbulha de vez em quando ou uma sobrancelha despenteada, e nem isso me faz sentir aquela adrenalina que procuro. Não tremo, não tenho medo de errar, não tenho medo de ser indiscreta ou de não corresponder às suas expectativas, sou apenas eu mesma, e isso prova que ele não tem qualquer influência em mim.
Viva a complexidade da vida!