4 de maio de 2020

Esta noite enquanto dormia, fui até ao hospital e espreitei pelo quarto onde a minha mãe estava. Vi uma mulher sentada - com poucos movimentos - totalmente sem expressão - parecia ela. É então que a minha tia Clara me vê e aflita, foge a correr. Voltei uns passos atrás com receio do que pudesse encontrar. Espreitei outra vez, a medo, e lá estava ela numa cama no chão com a minha tia Madalena. A minha tia tinha montado uma cama ao lado para ficar durante esses dias. Entrei e chamei “mãe” mas ela não reagiu. Voltei a chamar umas três vezes até que a minha tia a interpelou “mãe” e a minha mãe olhou para mim sem grande expressão “olá querida”. Dei lhe um beijinho mas ela estranhou, e até aqui eu não sabia se ela sabia quem eu era. A minha tia estava ao lado dela, muito cúmplice, de mão dada.
Eis se não quando entra uma espécie de pavão amarelo e azul, pela sala a dentro. Eu começo a tentar que ele saísse, e ele acaba entrando numa outra sala. Sigo-o e, do nada, as portas abrem se e já estamos as 3 a fugir apressadas para o metro. Ela a correr ao meu lado, quase cai, eu amparo-a, e ela magoa-se um pouco na mão. Peço-lhe para ter mais cuidado, menos pressa sempre, que podemos ir devagar. E vem o metro, entramos, mas era muito mais moderno.
Quando entramos e o metro começa a andar a minha tia diz à minha mãe que aquilo não é o comboio dela, que é aquele que a minha tia vai apanhar pra se ir embora. A minha mãe ao perceber faz uma cara ligeiramente assustada (por se ir afastar da minha tia, daquela mulher que ela conhecia) mas responde escondendo o embaraço: não faz mal, depois volto para trás.
A minha tia disse que não funcionava assim, enquanto pressionava no botão para sairmos na próxima. Ao que a minha mãe responde: “não faz mal, é só para apanhar ar, ver outra realidade, que esta já não aguento”.