25 de abril de 2021

 Presa na dialética que me une ao outro, muitas vezes acabo tropeçando nos vãos esforços de me dedicar tanto à efemeridade das minhas relações. Curiosamente não me sublinha a mesma mágoa de o outro partir - ao invés disso - a conformada calma de assim o ser. Gastam-se recursos no esforço de chegar perto daquele que é volátil, que serve como suporte para as dores que vão aparecendo e pouco mais quando se atenta à magnitude da vida. Talvez hoje esteja apenas descrente - ou somente com escassos recursos - afinal, bem sei para onde quero ir quando tenho meios. Lá, junto dos outros me multiplico. Mas eu não sei... Toda a gente que conheço irá morrer, e eu muitas vezes presa no tempo futuro, no porvir, com um pé no outono e outro no verão. Momento de viragem entre saúde e doença, felicidade e miséria. Eu na tentativa de controlar as variáveis e evitar a dor que ainda não chegou. O que é que interessa, no fim será realmente o que for. Olhei para os astros, antevi o que viria, e todavia não deixei de ser assoberbada pelos mesmos afectos. Claro que tenho saudades daquilo que durou um pouco mais.

No fim só encontro conforto naqueles que ainda hoje viajam até mim, de outros tempos me vêm falar, ensinar coisas que ainda hoje fazem sentido. Coisas um tanto mais perenes, estáveis, indestrutíveis. E que assim eu também tente sempre ser, que olhe sempre por cima de nós, para o que somos cá em baixo, como parte de qualquer coisa maior da qual ainda não compreendemos o sentido. Fé que assim seja.