20 de fevereiro de 2015

Para o Mar ia eu

Quando me foste buscar, confesso que me deixei levar, algo contrariada, por achar que só me levarias para mares tumultuosos onde nada de bom se avizinhava. Lá te segui, reticente, com um pé sempre em terra. E em vez do perigo que anunciavas, eu vi o sol da Primavera a romper pelas falésias, iluminando por instantes a minha vida. E tu sempre repetias que um dia isso acabaria, que o sol que tanto me aquecia, iria-se esconder atrás das nuvens que ao longe se avistavam. Se era tempestade que chegaria, eu não sabia dizer, todavia, aproveitara cada raio de sol a doirar o meu rosto pálido. E apesar de ainda carregar na minha alma e no meu corpo a recordação do último naufrágio, eu nunca pensaria em abandonar o navio. Quem sabe se o vento não decidisse levar para longe as nuvens, quem sabe se o sol não quisesse ficar mais tempo... 
Não sei onde estás, o que trarás, mas creio que o que vira fora suficiente para querer ficar no calor dos teus braços. Se um dia fores inverno, ficará a lembrança daquelas noites em que vi em ti um porto, em que quis ao teu cais enlaçar as minhas amarras e repousar por instantes. Sim, sempre me avisaste da impossibilidade de seres uma certeza, mas eu nunca acreditei que não o pudesses ser... 
Acredito que se naufragar, tu me irás resgatar, porque tu és luz, ainda que a tentes esconder por detrás desse manto. Por favor, não tentes de mim ocultar aquilo que eu já vi, não tentes fugir àquilo que nem chegámos a pintar.

17 de fevereiro de 2015

De quem terei herdado este monstro? Esta desesperança, esta não-ambição, esta preguiça, esta carência que traz para a minha cama as coisas mais tóxicas... Não, ninguém me dará a mão, ninguém me levará para longe daqui. Não posso mais esperar por ti, tu que não voltarás, tu que não foste apenas dar uma volta, tu que encontraste paz noutro sítio, a léguas de mim. E todas desfilam, e nelas a tua imagem, a esperança de encontrar um pouco de ti nos seus recantos, de não me sentir tão só. Tantas luas desde que partiste e onde estou hoje? Voltei de Paris, e comigo voltou o pranto, o eterno confronto com a minha triste realidade, com a falta de vontade de construir algo que se evaporará um dia. Não me lembro de ter voltado a provar a felicidade, não me lembro de uma só vez em que algo voltou a fazer sentido, de uma só noite em que não fui assombrada pela tua imagem. O tempo passa, e tudo parece que ele destrói, e a única coisa que fica intacta é o meu desejo de te voltar a cruzar, algures. Porque é que é sempre a ti que volto quando não há mais nada? Porque é que me tinhas de lembrar que existem coisas boas no mundo, porque é que continuas a ser a única, e porque é que eu não inspiro o mesmo em ti? 

Não Leonor, já estavas tão longe... 
Já não é ela.