28 de outubro de 2016

Que fazes por aqui Ricardo, julgava-te bem longe, a sussurrar ao ouvido de quem nunca te conheceu, quem nunca provou o veneno do tempo, ou quem sabe que nos braços da Lídia, por já teres decerto concluído que o fim não é se não um outro principio, a certeza de que vem algo de novo, de que nada se esgota, de que há sempre mais por conhecer. Ricardo, que fazes tu por aqui esta noite, não esperava que aparecesses, julguei-te morto, julguei-te preso num tempo em que saíamos à rua sem armadura apenas com o desejo de alimentar algo que em nós apodrecia. Tenho tido a ocasião de estar mais próxima dos ensinamentos do mestre, e por muito que o ache, de certa forma, demasiado idílico, creio que a sua filosofia emana algo de realmente reconfortante. Foi com ele que entendi que, mais do que encontrar respostas, havia como que uma necessidade de me afastar delas e não tentar interpretar aquilo que recebo antes de tudo através dos sentidos. Todo o conhecimento, toda a linguagem, vem da vontade de entender, certamente afim de precaver, de controlar, mas finalmente, afinal somos todos variáveis diferentes, e a soma das mesmas dá sempre um resultado distinto. Não sei porque te conto tudo isto, creio que não é se não uma tentativa de te fazer desaparecer, de abafar o eco da tua voz a dizer que tudo acaba enquanto secretamente suspiras pela Lídia. Filho da puta, já estavas tão longe...