2 de junho de 2017

Doutora, desculpe inaugurar esta sessão com algo de tão vão como isto que sinto. Reconheço que nada disto teria a mesma importância se eu não tivesse este espaço dentro de mim por colmatar. Desculpe doutora se mais uma vez inauguro esta sessão com o nome dela...
Houve algo de muito curioso relativamente à mesma. Se noutra altura outra pessoa cantou o que em mim havia de mais refundido, hoje há quem cante aquilo que de Desejo reside em mim. É que tem de perceber, doutora, houve alguns pedaços que negligenciei em prol de montar uma figura mais sólida, mais dona de si, mas hoje doutora, é claro que os meus desejos vão para além de mim. Se me faltaram braços para me envolverem, eles não falham na altura de o fazer, e é muito evidente, hoje, que procuro figura para no meio deles caber. Eu sei doutora, nada disto é assim tão urgente, afinal não deixo de ter rondado ontem os meus vinte anos, mas se assim não parecesse tão urgente, quem raio seria nos outros? Seria eu tão assídua na altura de cuidar? Eu não sou mal intencionada doutora, eu acho que reconhece em mim a vontade de deixar toda a gente confortável, mas há muitas vezes que em prol disso me esqueço daquilo que sinto, do quão infrequentável é esta sensação dentro de mim...
Há contudo, quando olho para trás, a certeza de que tudo valeu a pena. Recordo tudo aquilo que dediquei, e quem por mim passou, como algo de belo, que voltaria a querer cruzar. Mas doutora, eu não sei, eu só queria que na altura de julgar eu não fosse tão dura comigo... Porque é que me preocupa realmente? O amor não existe, pois não? Amor é falta, porque quando é próprio não encontra lugar no outro.... Doutora, não percebo nada, e não percebo sobretudo, o que seríamos sem o seu sopro... Estaremos todos assim tão partidos para nos deixarmos colectivamente, por ele, arruinar?