5 de outubro de 2017

Hoje a Primavera voou até França para te acordar. Hoje levantaste-te antes do sol e despiste os casacos que o Outono te trouxe, foste à rua e sentiste pela primeira vez o cheiro de que te falava, da terra molhada, viste do outro lado do caminho a geada a cobrir os campos, o silêncio a adormecer lentamente no cantar tímido dos pássaros. Estava frio demais para andar descalça, voltaste para dentro para fazer café, não ias beber mais de dois goles, mas haver café era mais um passo até à casa da tua tia, onde acordavas em manhãs de Dezembro de outra qualquer vida. 
Há uma certa plenitude que vem dar contorno às manhãs que antecedem uma Primavera no Outono, há uma contemplação e a certeza de que a vida é bela, de que a moldura natural da fauna, da flora, de todas as sensações que emana, é a própria vida e nós estamos lá. Nós humanos, porque eu, eu desapareci já há algumas manhãs, entre miragens e sonhos lúcidos de a ver entrar pela porta. Eu, eu quem sou para além de ser aquela que te vê, espectadora assídua da tua vida, mão invisível que te levanta, sopro que te aquece, que te dá impulso. Eu...