29 de dezembro de 2018

Havia na ideia do Outro um lugar onde chegaria triunfante e poderia finalmente descansar, adormecer, encontrar paz e muitas festinhas. Lá nesse sítio não havia responsabilidades, nesse sítio eu era pequena outra vez. Era um prado ou um lago onde estava sempre calor. Era um quadro que eu posso encontrar na minha sala de estar, um Ideal perene, inatingível, um momento em pausa. Todavia hoje chegou o dia em que descobri que somos movimento. 
A realidade é que continuarei a andar, continuarei a ter de me erguer diante da vida e das suas adversidades. As estações não cessarão de mudar, encontrarei muitas pessoas pelo caminho, e haverão dias em que não terei ímpeto nem esperança. A expansão que desejo para mim serve para me aproximar lentamente e cada vez mais de uma vida bem-aventurada, esse é o caminho que escolhi para mim. Ser o melhor que posso, em prol do Bem de todos. Pretendo ajudar as pessoas a viver melhor, através também da exposição tão honesta do meu próprio processo, das minhas próprias dúvidas e hesitações. 
Quando, em raros momentos, alguém aparece ao teu lado e começas a apreciar a sua companhia, o caminho não cessa de existir como eu pensava irrealisticamente. É provável que o tempo fique mais quente e o mundo mais iluminado. É também provável que eu receba mais festinhas. Mas a cada encontro há a possibilidade de com o outro te expandires também, encontrares apoio, momentos de paz para suportar as dores da vida. Eu não serei nunca tudo aquilo que o Outro espera que eu seja, afinal venho eu de outro qualquer sitio. Não me vou deixar esculpir, não me vou anular, encolher para caber nos seus braços. Afinal já não tenho 7 anos como tinha no ano passado... Há um caminho para mim, e haverá certamente quem quererá caminhar ao meu lado, e expandir-se comigo... 


16 de dezembro de 2018

O Bebé e a Diva

Cheguei a crer, nos tempos
Em que em nada cria,
Que o amor que existia,
Era somente sintoma da dor
De que padecia.

Era a resposta criativa,
O prado ensolarado,
Onde teria os seus braços
Para me proteger da
Dor que queria entrar.

Era no Outro que procurava,
A força que ainda não tinha,
Espaço por preencher,
Cavidade cerebral onde
Morava a ausência dos meus pais.

Espaço oco e escuro que
Decorava com luz e flores,
Música e cores,
Para tornar confortável o Lugar,
Para que alguém lá quisesse ficar.

Tentava dos outros esconder
As falhas que sabia ter.
Afogando-as para o fundo
De quem sou, na esperança,
Que lá ficassem adormecidas.

Mas das minhas entranhas,
Surgia o grito da criança
Atormentada, ouvia-se seu pranto,
Assim como o rugir da diva
Enraivecida, mulher revoltada.

**

Hoje passou algum tempo...
E o tempo que passou trouxe
Até mim estas duas personagens
A quem dou a mão e com quem
Tenho vindo a trabalhar...

O bebe já não chora tanto desde
Que o tenho nos meus braços,
Apresento-o às pessoas que não
Resistem em querer lhe pegar
Dar beijinhos e até reconfortar.

Quanto à diva, olhem como ela
É tão capaz de lutar, melhor
do que eu, pelos nossos interesses.
De nos autopromover,
De se saber bela ao espelho.

Agora somos três, e haverá
Certamente outros por resgatar,
Por converter em potencial criativo,
Outros que nos virão ajudar,
A continuar a escrever este livro.