17 de fevereiro de 2014

E outra vez a vontade de me perder, de ser a ratazana que fora, a louca, aquela que tantas vezes vi em sonhos estendida na Rua da Alegria. Que irónico ter sido nessa rua, mas não será esse o fato que melhor me assenta? Quero a euforia, a adrenalina, a orgia, o banquete, a catarse, o grito estridente, os vícios, as caras novas, os corpos, sim, os corpos. Delas, deles, sujos de lama, arranhados pela vida, podres por dentro. A doença, o mijo contaminado, o revirar dos olhos, o cabelo desgrenhado, o abismo, a ressaca, a dor, a chuva, a mesma roupa de há três dias, as quedas, o vomito, os parasitas, a prostituição emocional, a entrega a um desconhecido, o duche de agua fria, o veneno, a lamina a perfurar o meu braço já em sangue, o nó na garganta, o frio na barriga, o arfar, os dentes cerrados, um gato assanhado, e mais sangue, e mais dor, e mais álcool, e mais ressacas, e mais orgasmos, e mais gritos, e mais sujidade, cada vez mais poluída pela vida, cada vez mais corrompida, cada vez mais ratazana, cada vez mais eu!

Rrrrrrrrr tragam mais carne, tragam mais whisky 
E outra vez as duvidas, a não-ambição, a desesperança desta vida. O que fazer com ela? A eterna incerteza de estar ou não a seguir o caminho que me convém.
A preguiça intelectual, a sede do universo, a sede da paixão e de respostas. Que faço aqui, para onde vou? Todos os meus sonhos vão para além daquilo que se pode tocar.
Quando é que me perdi? Tenho a vida inteira diante de mim, tenho todas as possibilidades do mundo, porém, o que quero realmente? Que porta abrir para lá chegar? Se o trabalho nunca foi uma finalidade mas uma consequência, qual a menos sofrível? Qual aquela que poderá até ser um prazer? Mas.... E se nunca encontrar uma rotina que me convenha, e se o acaso me tornar naquilo que mais desprezo, e se acabar como todos os outros a caminhar rumo à morte? Quero muito mais do que isto, e não sei se trabalhando encontrarei aquilo que procuro..
Com quem falar? Aqui são todos iguais, aqui limitam-se a esperar e esperar e esperar... Esperar por uma eventual recompensa, vivendo um presente miserável na esperança de um futuro melhor, esperar que a vida dê as voltas necessárias para lhes trazerem os sonhos que tanto os assombram à noite, e eu, eu que corro, eu que ajo, estarei mais certa do que eles?
Vai tudo desaparecer, no final acabaremos todos debaixo da terra, e os seus rendimentos, e os meus versos, e os nossos filhos, e a terra inteira, tudo se transformará em cinzas. E a existência da raça humana será apenas um mito esquecido no tempo. 

Que dor de cabeça!

13 de fevereiro de 2014

Sozinha. E finalmente eu outra vez, finalmente a louca spleenada e alcoólica, a ratazana, a irresponsável, a que não usa relógio, a que deambula sem rumo, aquela que se tinha apagado por amor, e que hoje acorda com a promessa de jamais se anular por alguém.

Obrigada a ti por teres sido boa, espelhando nesse instante a sua maldade. Não me devias nada e foste boa. Ela nunca foi tão boa.

Venham ruas novas onde procurarei uma cara nova.
Até lá, a paz de ser só eu. 

Chamem-me narcisista, mas nunca foi por mim.