18 de agosto de 2020

     Sempre que a monotonia espreita, lembro a razão pela qual escolhi assim. De tumulto em tumulto, nada abrigava a minha inquietação, e se queria mudança, não podia mais fazer as mesmas escolhas. E o sítio onde cheguei, bela varanda sobre aqueles que lá ficaram, eles que permanecem ansiosos, irrequietos, culpando a fortuna que se lhes caiu em cima e, todavia, seguem apressadamente o mesmo caminho, ignorando os constantes cruzamentos com outras estradas. Eu, pelos vistos, cresci, levantei-me para escolher para mim outra coisa, e fui finalmente encolher-me em braços que me agarravam inteiramente - até me sufocarem. Braços onde adormecer, perder toda a autonomia, sugar a minha potencialidade, anestesiar meus desejos e receber enfim aquilo que a infância me roubara. Tanta ternura a escorregar no meu corpo cansado, músicas de embalar, banhinhos bons, o bebé pode chorar que a mãe vem já - ela vem sempre. 

    Todavia não é somente o bebé que tem de ser regulado. Dele dependem as inquietações da mãe - vasopressina em excesso ou mau temperamento da besta. 

    À porta dos 25 anos, não quero mais ser pequena.