18 de agosto de 2018

O chefe da minha tribo eu nunca o vi, lá em casa era uma mulher que se fazia ouvir bem alto. O suposto chefe da tribo era só um pau mandado que ia buscar rendimentos a outro sitio. Na minha tribo ele estava calado e ela mandava nele, e sobretudo, em nós. Depois quando tudo acabou, ele ficou triste, muito triste, e passava longas horas lamentando-se, e eu terei herdado esses lamentos para mim. Estávamos eu e ele sozinhos, ele ao meu colo, o colo de uma menina de 8 anos que tentava reconfortar aquele que devia ter sido o chefe da tribo. Gosto dele, ensinou-me desde cedo valores mais altos, tais como a humildade, a generosidade, a honestidade. Se não fosse por ele, talvez tivéssemos mais raiva e menos luz. Todavia quando há pouco tempo tivera de passar duas semanas com um verdadeiro chefe da tribo, claro que de inicio me sentira um pouco ameaçada, afinal era eu que estava temporariamente ali a gerir a tribo, mas a voz grave e autoritária dele me transmitia uma sensação de protecção. Afinal, com ele ali, eu estava protegida e os problemas nas mãos dele. Não mais o medo a ecoar dentro de mim. Só a paz e a certeza de que a minha vida estava orientada para o sitio certo. 
Para os meus filhos, o desejo de que exista uma figura forte emocionalmente. Claro que a minha mãe representava esse papel, mas vacilava quando era injusta porque se sentia magoada, ou irritada, deixando transparecer tudo menos segurança. Creio que uma mulher o faria tão bem quanto um homem, mas para isso há que ter as ferramentas emocionais necessárias, construir a força suficiente, a confiança em si e no resto da vida. É preciso formar o carácter, aceitar as adversidades como parte da vida, erguermos-nos diante delas e não transferir para eles, os mais novos, os nossos próprios medos. 

2 de agosto de 2018

Há um incalculável número de acasos que justificam aquilo que sou e a maneira como penso. Àqueles que pregam que o inato pesa mais na balança, eu tenho para mim a exacta consciência dos momentos chave que me foram transformando, das árvores que foram semeando a minha personalidade, e dos frutos que alimentaram as minhas ideias e valores. E essa exacta consciência e capacidade de análise terá ela nascido comigo ou terão sido as adversidades que a conduziram até mim e me obrigaram a desenvolver esse talento? Afinal Freud fala dessa consciência moral que se desenvolve quase proporcionalmente ao sentimento de culpa. Terá a culpa semeado também o que de melhor tenho? A busca do Bem Supremo para mim e para os outros, a crença de que ao fazê-lo estarei a levar uma vida bem-aventurada. Afinal sou também eu filha deste legado católico em que os Bons são valorizados e os Maus punidos. Se eu for boa, terei coisas boas e pessoas que me amem. Mas assim não foi necessariamente, pois o universo não é necessariamente justo. O universo apenas é. Terá sido então uma bênção ter sido deixada ao abandono, afundada em culpa e desamor, afim de ser hoje uma pregadora do Bem, de tentar sempre melhor amar?
Tudo me parece mais organizado desde que tenho consciência de que sou um ponto de encontro energético, um campo de várias forças inerentes e transformadoras, que faço parte do Cosmos, da natureza, e que sou também eu influenciada por ela. Quais os meus talentos, quais as minhas adversidades, qual o papel relevante que poderei ter aqui, quais os tempos certos, o que posso retirar de cada situação, são tudo questões que a astrologia desmistificou e organizou em forma de mapa. 
Não é sensato pensar que a vida será uma acalmia constante, ainda que o desejássemos, há coisas que acontecem e nos foge das mãos. Não quero negar a vida, não quero adormecê-la, fazer como eles, planeá-la ao máximo, ver as semanas a passar, todas altamente calendarizadas para não dar espaço a grandes tumultos, ter poucos desejos, fechar as coisas em caixas, esconder emoções atrás da razão... Não quero nada disso. Para mim virão, como para todos, situações más, dores, mas sempre com a certeza de que para cada uma poderei dar um significado e transformá-la em luz que usarei para fazer do mundo um lugar melhor - não fosse eu uma virginiana que se preze.