30 de maio de 2014

Tenho alguma coisa na testa? Porque me olham todos assim? Não estou a chorar, pois não? Vejam, até sei sorrir! Então porquê? Eu estou bem, já vos disse que estou bem, que estou pronta! Porque é que não acreditam? Porque é que fogem? Fiquem aqui, toquem-me! Não me vou partir, a sério, eu tenho mais para dar! Não, não me olhem assim! Dói tanto quando o fazem!

Vá, não se vão embora, não me deixem aqui... Levem-me a sair convosco, eu não estou doente, vejam, vejam como me mexo! Hein?! Curadissima! Vamos dançar, ver pessoas... Parece que têm vergonha de mim, do meu estado, mas qual estado?! Eu não vos disse já que estou bem? Porra! Parem de olhar assim e falem, digam-me porquê! Porque é que ninguém abre a boca? Porque é que ninguém diz o que pensa? Eu fiz algum mal a alguém?

(pausa)

É o quê...?

(pausa)

Ontem, quando eu era sol, todos me queriam dar a mão...









14 de maio de 2014

O eterno sentimento de não pertencer a lado nenhum, de ser alheia a este mundo, invisível, acessória. Um peso a mais na carteira da minha mãe. A minha casa, a casa do teu pai, e agora até já existe a casa do teu irmão, e eu que tinha a minha casa - onde construíra um lar, que fizera dela um leito, algo de sólido, um sitio onde havia amor - hoje não tenho nada.
Afinal sempre é verdade, afinal sempre perdi tudo; a minha identidade, a minha rotina, o meu lar, o meu rumo, a família que criara, e a vontade de viver.

Desesperança. Onde é que me encaixo?

Não, não te consigo proteger, nem a ti, nem a ninguém. Não estou pronta, não tenho forças, só tenho os meus braços para te abraçar, mas temo que não cheguem para te aquecer. Ninguém procura o mau tempo, e eu só tenho isso para oferecer.

A sensação de que o melhor ficou para trás, de que o sol não brilhará tão cedo, de ter de suportar por mais tempo esta viagem solitária e triste, sem destino e sem ninguém para me dar a mão.

Temo que a única mão capaz de me salvar, é a minha.
Mas para quê?
Para quem?

7 de maio de 2014

A eterna dor de cabeça, quem sou eu? A procura incessante de me definir enquanto individualidade, de encontrar uma massa consistente que vá para além do meu corpo, uma substância inteligível que não sofra mutações temporais. Perdi-me há quatro meses, perdi-me há cinco minutos. Sou aquilo que desejo, corro geralmente com uma meta, todavia, não consigo distinguir aquilo que vale a pena, daquilo que será apenas um grito de prazer. 

Tudo morre, tudo passa, o constante coro que ecoa ao meu ouvido... Recordações, histórias, vivências, para contar a quem? Àquele que também morrerá? Não, não acredito mais neste mundo. Estou cansada de agarrar aquilo que vai partir, de lutar por algo que não ficará mais de cinco minutos nas minhas mãos. 

Vá, vamos embora, vamos dançar, ouvi dizer que há uma festa hoje. Misturemos-nos entre eles, entre aqueles que não esperam nada, a sério, não sejas snob, sabes perfeitamente que de certa forma eles têm razão, vá, fecha os olhos e dança! 

Amanhã logo se vê...