13 de dezembro de 2021

 De volta a estes corredores, sento-me no chão à espera que alguém passe e me estenda a mão. Só que estes corredores já não são meus como antes, e este lugar não é mais o sítio onde alguém me pode ajudar. Nove anos passaram e eu já não sou a mesma - no curso que a vida tomou, nove anos em que tomei as minhas decisões, com mais ou menos liberdade, que me trouxeram até aqui, a estes corredores onde não há mais quem me possa salvar. 

Nove anos em que a vida aconteceu, e as pessoas foram desfilando, e se enfraqueceram dentro de mim, perdendo o poder que antes lhes atribuí para tomarem conta da minha existência. Hoje a certeza de que sou eu a única que me poderei ajudar verdadeiramente. E apesar de tudo, sempre que foi preciso, quem lá esteve foram os poucos sobreviventes da minha família, os únicos que ainda posso responsabilizar pela minha má fortuna. 

Mas há nove anos atrás eu ainda me sentava no chão destes corredores desejando ver alguém interessar-se por mim, levar-me para casa e dar-me a oportunidade de crescer numa família onde eu pudesse sentir que finalmente pertenço. Todos estes anos depois, o mesmo sentimento me assombra, de quando em quando, eu pego nele, observo-o e a mesma mágoa quer entrar. Por mais que eu caminhe, eu vou sempre ser a pessoa que veio daquele lugar, daquela primeira casa onde vou sempre voltar.