27 de novembro de 2022

    Quando nos fecharam dentro das nossas casas, dentro das nossas histórias, quando o fluxo parou e as possibilidades se esgotaram, quando descobrimos, por um instante, de novo, que sabíamos ser outra configuração de nós próprios, lá nessa altura em que nos fecharam dentro das nossas vidas, e nos provaram que nós nunca tínhamos sido coisa alguma, que nunca tínhamos tido se não a escolha que outros nos deram. E mais nenhuma.


    Eu não sei se percebes o que te digo, não sei se consegues fazer sentido daquilo que não tem forma. Mas ainda que de nada consigas falar, há qualquer coisa que tu entendes. Algo mudou e paira entre nós. A época não é de glória, mas não se sabe do que é. Nada apareceu ainda como hipótese aos artifícios que já não servem.             

                                                Gostava de conseguir dar o que falta, mas temo estar acordada para nada acrescentar. Acordei e isolei-me dos outros, vi-os de fora e mergulhei para dentro. Lá dentro as coisas foram unidas por um fio, o fio  tornou-se numa ideia, mas a ideia é teia com outro alfabeto, e de nada importam os sentidos. Era bom que alguém cuidasse das pessoas... É bom olhar para dentro, digo eu às pessoas, mas era melhor se houvesse de fora sustento, coisa que não há. Tudo estava assente em coisas que já não servem. Nem o que de antes saia do meu forno, serve agora para alguém... É maior do que nós a incerteza.