23 de junho de 2014

Eterno desencontro. Quando havia tempo, não havia amor, agora que não há tempo é que há amor. Para quê isto tudo? Eu partirei, tu partirás, e o que vivemos será guardado aleatoriamente numa das gavetas desta velha cómoda. Então escrevo, que mais fazer para imortalizar o momento? Ele que fique preso a esta página, para um dia o reler, e levar-me de volta a este ponto de imensa felicidade.
Devolveste-me a vontade, a fome, a esperança, fazendo-me sentir desejada e capaz de tudo alcançar. Estás a ver? Tudo volta se assim o desejares. Bem que podias ter voltado para ficar, mas quem sabe o que o futuro nos reserva, quem sabe se um dia, noutro continente, não nos voltaremos a encontrar, com o tempo à nossa disposição, tempo para nos amarmos.
Continuo a imaginar-te nua na praia, à chuva, a rir, a correr, a fazer rodar a minha cabeça, a dar-me asas para atingir o infinito. És aquela que me leva a procurar uma vida alternativa, num barco, numa cabana, numa tenda, longe do mundo, longe daquilo que é vão, longe dos homens e dos seus artifícios.

 Obrigada por seres sol, por teres secado as minhas lágrimas, por me teres aquecido e acendido, por me mostrares as cores à minha volta, por dares brilho ao que me rodeia, e me fazeres sorrir, sentir, e viver! 

Para sempre tua,

21 de junho de 2014

"Mes rêves dans la tête
et le monde à mes pieds
sur ma planche à roulettes
je suis le chevalier"

Saez

The Return of Neptune, ca. 1754. John Singleton Copley

12 de junho de 2014

O fim da epopeia

Confesso que não te vi naquela noite, que os meus olhos ancoravam perto de outra praia, banhados por outra maré, usando outro sol para secar o sal das minhas lágrimas. Não estavas lá nessa noite. Foste nuvem, foste chuva, foste tempestade. Não te vi Madalena, eu não te vi.
Vieste ao meu encontro como um navio que procura um porto, deixei-te entrar porque mais ninguém o quis fazer. E entraste, mas não te senti Madalena, eu não te senti.

Os dias passavam, e aquela merda de música ecoava na minha cabeça: 

"I wanna take you somewhere so you know I care
But it's so cold and I don't know where
I brought you daffodils in a pretty string
But they won't flower like they did last spring

And I wanna kiss you, make you feel alright
I'm just so tired to share my nights
I wanna cry and I wanna love
But all my tears have been used up

On another love, another love
All my tears have been used up
On another love, another love
All my tears have been used up
On another love, another love
All my tears have been used up 

[...] "

Leonor, o jardim, o jardim está aqui, diante de ti! Abre a porta, e fecha-a quando entrares.
E lá fui eu, fechei os olhos e repeti o teu nome vezes sem conta:

Madalena, Madalena,
Madalena, Madalena,

Mais, e mais, e mais...

As tuas amarras eram tão frágeis que numa noite de tempestade foi preciso alguma força para te manter enlaçada ao punho. Eram as velas dela que ressoavam ao longe, esperando que o cais onde te agarravas se libertasse. As tuas velas estavam arriadas Madalena, e eu não as ouvi. 
Quando alvoreceu, dei por mim a baldear o teu convés, procurando eliminar o sal que o cobria. 
Mas a música, outra vez a merda da música:

"And if somebody hurts you, I wanna fight
But my hands been broken, one too many times
So I'll use my voice, I'll be so damn rude
Words they always win, but I know I'll lose

And I'd sing a song, that'd be just ours
But I sang 'em all to another heart
And I wanna cry I wanna learn to love
But all my tears have been used up

On another love, another love
All my tears have been used up
On another love, another love
All my tears have been used up
On another love, another love
All my tears have been used up

[...]"

Estava exausta de outra viagem que fizera, lembrava a sereia que passou por mim e que se perdeu. Pensava nela e nas peripécias da rota, tanto divinas como as do reino animal. Ouvi por intermediário de um marinheiro que a sereia andava a rondar a costa, que tinha voltado das Américas e que tinha diante de mim a oportunidade de a prender ao meu caís. Mas tu ficaste, agarraste-te com os teus tentáculos e olhaste-me de frente, e pela primeira vez Madalena, pela primeira vez eu vi-te. Estavas ali, diante de mim, estendendo-me a mão, apagando pouco a pouco o seu nome.

Levaste-me a navegar ao largo da costa, estava sol, o mar turquesa, comíamos foie gras e bebíamos uns quantos cocktails, que cliché. Até que o vento rondou a norte e dobrou a sua intensidade. Era tempo de partir, era tempo de explorarmos outras terras. Navegámos em mar alto, sobrevivemos a algumas tempestades, porém, ao dobrar o cabo das tormentas, o nosso navio não resistiu, e vi-te partir sozinha na balsa, eu vi-te Madalena, deixando-me naufragada em mares tumultuosos. 

Mas eu sobrevivi, e os meus olhos testemunham uma epopeia em que o herói se afogou, em que o Mal comandou o navio para longe de mim.

Só quem te viu partir é que sabe o que é a noite.
Deixei-te ser sol, e tu foste aquecer outro continente.


11 de junho de 2014

Um ano depois, onde estou?

Onde é que eles estão? Onde é que está a minha vida?
Há um ano atrás estava a acabar de escrever a composição da minha vida, a completar todo um ciclo com os melhores resultados que podia ter. A despedir-me e a preparar-me para voar. E ela apareceu, veio para prolongar a minha felicidade. E embriagada em tanta euforia, deixei para trás os meus projectos, escolhendo a felicidade a curto prazo. Mas seria ingenuidade pensar que era para sempre?
Doze meses me separam daquela Leonor, e dela não restou nada para além de meras recordações. Para onde é que ela foi? Ela que tinha o mundo nas suas mãos, ela que acreditava que podia alcançar o infinito. Ela que admirava... ela que perdi.

Folheando o álbum deste ano que passou, não me vejo em nenhuma fotografia. Vejo partes de mim, e outras adormecidas. De página para página, o meu olhar se apaga, o meu corpo se dobra, até ficar apenas um esqueleto, sem voz para contar como é que o seu corpo está coberto de cicatrizes.

Um ano depois, onde estou?
No mesmo sitio, porém, à minha volta tudo mudou.
Não vejo ninguém, não vejo nada.

E no espelho, quem é esta que se olha sem se ver?

Repetindo diariamente que este ano não fora em vão, que dele colhi muitas experiências, quem tento iludir?
Nem fui eu quem o viveu, mas muitas outras Leonores; a Leonor pós-orgasmo, a submissa, a cega, a partida, a player, a aventureira, e aquela que ficou; a desesperante.
O verão, as duas faculdades, Paris, tudo imagens soltas de rotinas que não vivi, histórias que me foram contadas, episódios soltos, sem lógica, sem nexo...

Toi seule pour me rallumer,
Déesse, Infirmière, Marguerite,