26 de setembro de 2014

A Joana

A Joana? O que dizer sobre a Joana? A Joana é linda, a Joana é daquelas pessoas que trazem brilho à sala, ainda que o dela não seja imediatamente visível. A Joana é uma promessa, uma esperança, a Joana quer ajudar pessoas e gosta de crianças, a Joana é daquelas que apetece abraçar a toda a hora, e proteger, e fazer rir, porque a Joana é pequenina e não teve uma vida fácil. A Joana é inteligente, mais do que era de esperar, o que faz da Joana ainda mais brilhante, ainda mais Joana! Ai (suspiro) olhem só como a Joana é linda!
A Joana é tão perfeita que a cada abraço que lhe dou se espeta um pico em mim, e eu que achava que não ia doer, eu que achava que aquecê-la seria aquecer-me a mim... A Joana é fantástica, bebe uns copos e transforma-se em polvo, agarra todos aqueles que consegue e manipula-os, e vai levando um a um à sua boca, enquanto os outros olham impacientes, esperando a sua vez. A Joana é linda, eu adoro a Joana, adoro a promessa daquilo que ela podia ser, e a Joana, a Joana está partida, e eu que me achava grande o suficiente para a reparar, não fiz se não partir-me. Sim, eu adoro a Joana, mas a Joana é uma puta, mas porra, que fome da Joana! 

22 de setembro de 2014

Tanto tempo à espera deste momento, porque o deixaria passar? De volta a mim, à maluca, desajeitada, que se ajoelha, que insiste em olhá-las desta perspectiva, que se despe, que rasteja, que se inunda em álcool, que permanece impotente no chão, levando o seu desespero ao limite, descuidando-se, deixando que elas vejam as minhas impurezas, cabelo desgrenhado, à chuva, coberta de lama e de cicatrizes. Não, eu não me levantarei. Aqui sou mais eu, aqui tudo é por mim. Aqui sonho-as, aqui invento-as. Não me pintarei mais bonita, ficarei aqui à espera que um dia ela passe com o seu chapéu de chuva e me leve para casa e me lave, e me aqueça, e me olhe de frente, como tantas vezes imaginei.


Mais um inverno que se aproxima.   

14 de setembro de 2014

Sinto-me alheia, outra vez este sentimento de não pertencer a nenhum lado, de ser estrangeira, de falar uma língua só minha, de ser uma impostora, um peso a mais nesta sociedade, alguém que se arrasta, alguém que não ambiciona nada daquilo que ela tem para oferecer.
O verão está a acabar e vejo-os sorridentes a lavarem o sal que lhes cobre o corpo, a se despedirem das noites de bebedeiras e de volúpia, e eu, para onde vou agora que fiquei sem eles aqui? Mais um ano, mais uma tentativa e sempre a certeza de que a minha prioridade é outra, a de sentir, a de viver, em vez de ler livros sobre o sentir ou o viver. Como compreendê-los ali tão distantes? Tenho sede de me voltar a aventurar em terras perigosas, onde ninguém é capaz de me dar aquilo que eu dou, onde me sinto desafinada, com os padrões errados, arriscando a vida por aquilo que se fez grande aos meus olhos, mas que no seu reflexo é tão pequeno. Outra vez aquele monstro a querer entrar, a querer-se apoderar desta fraqueza, da minha cama. De quem herdei este medo pela noite? Quando foi que vi nos outros um significado para a minha própria existência? 

Será que serei eternamente a esmagada, a deixada à beira da estrada? Será que ninguém é capaz de me amar como eu amo? Ou será que sou eu que sou incapaz de amar quem me ama dessa forma? 

Prefiro admirá-las bem ao longe, de nunca as sentir minhas e saborear aquilo que elas refletem; a esperança. Quando chegam a mim já são imperfeitas, e percebo que o brilho que as envolve não é se não o meu brilho. Que fiquem ali, bem longe para eu poder correr atrás delas e deliciar-me com tal esplendor!  

3 de setembro de 2014

Baza Reis, de uma vez por todas

Passei tanto tempo em labirintos, entrando de porta em porta, esperando um dia alcançar O Jardim, sonhando, imaginando que aquele seria o mais belo de todos. Tanto me esforcei para abrir portas que estavam trancadas, tanto insisti e tantas vezes voltei para trás de mãos a abanar. E quando finalmente abri a porta certa, os meus olhos não queriam acreditar, lá estava o jardim que tantas vezes imaginei, londrino, cheio de relva, de árvores, de esquilos e de patos! Uma verdadeira utopia. Quando foi que me esqueci que o inverno existia? Quando foi que te vi a envelhecer a meu lado? A magia não durou muito tempo, as folhas foram secando e caindo, uma a uma, a relva foi perdendo a cor, e eu de costas para toda essa decadência, apreciando o lago, cega, não me apercebendo que todos à minha volta partiam para se abrigarem da tempestade que se avizinhava. Não me apercebendo que era a única que ainda acreditava na tranquilidade daquele jardim.

Enfim, parte de mim ficou lá, e o que escapou consigo traz as mais negras recordações, assim como a voz do Reis a sussurrar constantemente tudo acaba, enquanto suspira pela Lídia.

Rrrrrrr cabrão! Larga-me Reis! Tira de mim este peso, este medo, esta angústia, esta náusea!
Deixa-me continuar a abrir portas, deixa-me acreditar que não é uma fatalidade! Deixa-me acreditar que nem tudo são pontos, que também há linhas, que há soluções, que vale a pena lutar, que vale a pena acreditar!

Baza meu, não me assustas mais, seu frustrado de merda! Aposto que vives diariamente com o peso do arrependimento, arrependimento de teres visto a Lidia passar à tua frente e de nunca a teres agarrado.

Jamais serei como tu, jamais perderei esta fome que me é tão característica. Este brilho, esta certeza de que o mundo está à minha frente à espera que eu o conquiste!