27 de setembro de 2018

Querido pai, Quando um dia procurei meu primo, Apontaste para a minha mãe, De contornos tão hidrófilos, Ai a encontrei-a a ela, pela primeira vez nua Pousada na mesa da nossa sala. Depois mais longe avistei-te vigiando aquela Ilha Tão pouco insonsa "um turismo de sexo" Disseste com tanto desdém. Quem eu era, para onde ia Devia ser revisto, Por tua culpa, meu pai, Não sou inteiramente mulher, Tento afundá-la num banho de Virtudes Mais altas, porque não te quero ouvir A falar com esse desdém. Falarias tu comigo ou estarias a ver a minha mãe?
Quiçá na cama com ele, afinal tu sabes como elas são as mulheres... Mas quando vem a noite vem também a lua, E as suas emoções soltam a mulher desesperada, enraivecida que me habita, Aquela que quer poder e não hesita em tratá-los
Como te queria tratar a ti, meu pai. Serão eles todos como tu? Fracas criaturas decoradas de grandes Valores,
Não pai, tu não és o ser que querias, e eu de ti herdei esta dificuldade em me vir
Toda sentada na boca de uma mulher..
Afinal a elas eu só quero amar, ser o romântico, ajoelhado a vê-las dormir,
Sujá-las é que não, afastem aquela selvagem que grita lá de dentro,
Das masmorras que a tua voz ergueu para a mulher que sou.

9 de setembro de 2018

Fedro, Bauman e eu

Quando pela primeira vez apreciei a Beleza de um corpo, fui enfeitiçada pela luz que o mesmo emanou, no outro eu pude pela primeira vez espelhar todas as minhas esperanças. Ela era tela branca onde eu podia desenhar o prado mais bonito, aquele que via em filmes e transportava para aquilo que era o meu desejo. Enfim o corpo se ergueu e se agitou, exaltado, por não se querer deixar moldar pelas minhas mãos. Afinal era ele cavalo bravo que queria correr e o prado verde, era prado que vivia dentro de mim. Desolada e com os meus sonhos nas mãos, encontrei alguém que me acarinhou e adormeceu, percebi então que a Beleza não era de um só corpo, mas de vários, era das altas ideias que procurava. Ali estava uma delas, o Conforto. Assim foram desfilando os corpos e em cada um deles fui estando mais próxima daquilo que procurava. Mas isso era no tempo em que contava com o outro para encontrar o que precisava, que nele aportava e depositava as minhas poupanças na expectativa de que o meu investimento resultasse na minha riqueza. Mas ninguém cá está para o fazer por ti, e tudo o que fiz foi perder sempre a pessoa para os braços de outra, porque para que o pedestal exista, precisas de alguém lá em baixo a tratar dele. E quem olharia para baixo? Tornei-as Deusas e elas não hesitaram em ir procurar outros seres divinos, afinal de contas eu nunca pertenci ao Olimpo, fiquei sempre à porta... Mais tarde deu-se uma revolução, foi o momento em que finalmente comecei a olhar para mim e a reconhecer braços de Luz que se queriam soltar, comecei a apreciar traços meus, a ter ideias de sítios para onde queria ir. Agora não era mais para colmatar a Falta que procurava o outro, mas para multiplicar as minhas próprias qualidades. Queria alguém com quem as pudesse desenvolver. Da alteridade vou assim aprendendo e conquistando o meu lugar no mundo, aprimorando-me a mim e a ele, como ser Politico que sou vou ensinando o quanto consiga, aspirando assim a ser luz para outros. Afinal, procuramos sempre a Luz não para a Ter mas para a Ser, tornando-se assim o Amante no Ser Amado.












(É curiosamente parecido com o prado que Ela imaginou em 2002. Precisamente nesse ano triste em que deixámos de ser uma família...)