24 de janeiro de 2020


Tenho sonhado contigo todas as noites, tu chegas e eu sempre pronta para te acolher, acarinhar nos meus braços, tomar conta de ti. Tenho sonhado tanto contigo e sei que não és tu que pretendo reencontrar. Sou eu - aquela Bela e Alta versão de mim, inspirado poeta romântico sempre com uma mão atrás das costas, pronto para servir! Eu, calmo buddha que aceita tudo o que és em prol de ti! Eu, espelho bonito dos teus contornos!

Nós sabemos bem como é tão fácil ser, no espaço do sonho, tudo aquilo que quisermos. Em carne e osso é a realidade contra o chão esmagada. 

Sou eu, eterna criança abandonada que nunca pôde gritar, que pegou cedo num cigarro e passou a frequentar os bares, lá naqueles lugares onde havia outros, outros como eu que não sabiam a razão de terem nascido e a herança que essa infância lhes ia trazer. Eu que ainda me justifico no ontem, evitando assumir responsabilidade por hoje. Eu que trago comigo a revolta por não ter sido nada melhor do que isto que sou -para alguém gostar.

Aos amigos que sempre tive, devo-lhes as coisas que nunca deixei de ousar sentir. Devo-lhes o calor e a luz que trouxeram a alguns dos meus dias, mostrando-me sítios onde eu podia ser amada, nos braços de tantas mulheres que fui encontrando e aportando tantas e tantas vezes.

Mas no fim do dia, as pessoas têm a vida delas  e dentro da casa para onde voltava, não estava nunca lá ninguém.


15 de janeiro de 2020

Nunca no desconhecido que o Outro abre,
Coube coisa outra que nossos próprios sonhos.
Nunca tão somente fechámos os olhos a quem
Se mostrava, para nos vermos a nós mesmos.