26 de março de 2012

O Trio.

Escondeste uma chave lá bem em cima,
De maneira a que não pudesse alcançar...
Esforços foram mais do que se imagina,
Até aos teus lábios, meu amor, chegar.

Trabalho logo pelas seis da matina,
Dias longos e penosos a acartar
Sentimentos; quando ainda por cima,
Carregava uma ferida a sarar.

Acertaste no ponto mais doloroso,
Levando-me a um desespero profundo,
Apresentando-me um amigo manhoso,

Um amigo bem conhecido do mundo,
O senhor Desespero, irmão da Traição,
De uma multidão, nasce então a Solidão.

24 de março de 2012

Hoje não

Hoje não,
Hoje não vivo,
Hoje não vivo feliz,
Hoje não vivo feliz contigo,
Hoje não vivo feliz contigo aqui,
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque,
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque me,
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque me matas,
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque me matas e,
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque me matas e me,
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque me matas e me consomes.
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque me matas e me agarras,
Hoje não vivo feliz contigo aqui porque não mereces,
Hoje não vivo feliz contigo aqui,
Hoje não vivo feliz contigo,
Hoje não vivo feliz,
Hoje não vivo,
Hoje não,

Foge antes que te mate ou que a mim me mate, foge antes que te arrependas, foge antes que olhes para trás, foge antes que o sol se ponha, foge e não voltes, foge antes que me agarre a ti, foge e deixa-me respirar.

21 de março de 2012

Não é hora.

Os minutos passando lentamente,
O meu olhar perdido no medo,
E no entanto ainda é cedo,
Não é hora de ser exigente.

Não é hora de amar perdidamente,
E no entanto já nada é ledo,
E apenas a ti, eu concedo,
Uma chave para a minha mente.

Porquanto tudo em ti é opulente,
O teu sorriso é o meu farol,
Mas o teu olhar sem notar  me mente.

A noite chega, lá se vai o sol!
Mas eu aguardo, pacientemente,
Que tu venhas morder o meu anzol.

20 de março de 2012

Lúgubre

A vontade de viver leva-me a querer que o tempo é escasso para desperdiçá-lo com coisas segundarias. Com isto chega um certo peso na consciência depois de passar horas deitada na minha cama distraindo-me com ninharias, ou após chorar por alguém que não amo ou que não me quer.
Foi uma semana fúnebre, em que tantas vezes fui confrontada com aquela essência a cadáver e que em todos os casos não soube bem o que dizer. Não conheci nenhum dos falecidos, mas acompanho os vivos que choram a morte.
Foi uma semana feliz para mim, foi uma semana em que, rodeada de tanto preto, só vi a luz do dia, em que todas as ameaças de problemas eram reduzidos a cinzas comparativamente ao dos outros. Não é egoísmo o que relato aqui, é simplesmente respeito. Porque apesar de sentir a tristeza, não posso vomitá-la por não ser sequer do mesmo calibre do que a de quem perdeu alguém. Não posso estar triste pela pessoa estar triste, isso seria apenas empurra-la para um abismo. Posso apenas viver, não posso rir muito, mas posso distrair quem gosto. Porque a experiência diz-me a mim que essa é a melhor forma de esquecer alguma coisa.
Nunca me deparei com a morte de alguém muito próximo, o mais próximo foi um primo que mal recordo. Também  um grande amigo, chamado Jordi que via uma ou duas vezes por ano mas por quem sentia grande admiração e uma outra amiga chamada Ana, que acompanhou a minha infância. De resto, vi muitos gatos e cães meus morrerem, chorei por alguns, e esqueci outros.
Sei que é arriscado de meditar sobre este assunto, sem que é indelicado e perigoso, sei que todas as réguas são poucas para medir as minha palavras mas queria apenas com isto salientar o quanto eu lamento, com a mais pura sinceridade. Não sei o que dizer mais, não sei como aliviar a vossa mágoa, não sei como reagir e como me exprimir mas só quero que saibam que não ficaram sozinhas neste mundo...nós estamos aqui. Mesmo que não sejamos sequer comparáveis ao que perderam, somos alguém que ainda podem agarrar, somos a vida, somos o pouco tempo que resta.
Já perdi alguém de muito especial, talvez a mais especial que já tive, talvez a mais completa e próxima, e chorei, e parei, e passei muito tempo enganando a minha consciência. A morte foi apenas psicológica, o corpo permaneceu intacto, e vê-lo era apenas uma ilusão que me puxava para o abismo. Porque ele era real, esteve sempre à minha frente, e o corpo estava la, a mente já não, e foi aí que percebera que o perdera para sempre...

18 de março de 2012

Relações

As relações não são como nos filmes. Uma relação gira à volta de duas pessoas distintas e, por muito que achem que são almas gémeas, há muita coisa que nunca vai coexistir. Não há homens perfeitos como aqueles que vemos nas séries, não há problemas tão claros e simples de resolver, não há duas pessoas tão pacientes e felizes. As relações jogam com estados de espírito que colidem diariamente, jogam com feitios e personalidades, e acima de tudo com um equilíbrio. Há muitos sacrifícios que têm de ser feitos, é preciso muita paciência e muito investimento. Não é só amar, não é só felicidade.
Muitas vezes desejo ter alguém; imagino o fim da solidão, o inicio de longos passeios pela praia e de alguém com quem possa falar. Mas é quando estou perto de ter essa relação que me lembro da realidade, lembro-me das complicações e do aperto no peito. Lembro-me da trela que me liga a ele, lembro-me do peso na consciência e do meu impulsivismo que estraga sempre tudo. Porque nunca teremos os mesmos gostos, e isso é logo uma barreira, nunca teremos os mesmos interesses e paixões, e só a sabedoria nos trará estabilidade e nos levará a um equilíbrio. É preciso maturidade.
Sempre que me criticarem por ter magoado alguém, ponham-se no meu lugar, vivam o meu dia a dia, vivam o meu sofrimento, e as horas que passei a ponderar a minha decisão. Não é fácil, não é algo que queira fazer, simplesmente tem de ser, e custa-me muito, porque ambicionei mais, sonhei com um futuro com ele, e não o tive. Uma relação são duas pessoas, quando acaba, a culpa é das duas pessoas, não investiram o suficiente ou não estiveram atentas às queixas dos outros. Não há relações que sobrevivam só com uma pessoa a investir, por isso antes de idealizarem a vossa relação, tentem primeiro perceber se a balança está equilibrada.

5 de março de 2012

Confissão que nunca fiz

O sangue escorre pelo chão,
Espesso, quente e escuro,
Avançando como a lava de um vulcão,
Atravessando um muro.

Salta todas as barreiras,
Destruindo tudo o que passa,
Derretendo as mais diversas mangueiras,
Criando grande fumaça.

As queimaduras aumentam
Desmesuradamente em mim;
O calor, o suor se acumulavam,
Numa triste noite sem fim.

A luz do dia tardava
A chegar, o tempo estagnou,
Com a distância que nos apartava,
Da vida que alguém criou.

Chega de falsos sorrisos,
Perdidos entre lágrimas...
Chega de doces e chega de narcisos,
Esquecidos entre rimas...

Inverno infernal.

A caxemira gasta sobre o meu corpo,
A madeira rugosa na chama ardente,
O olhar vazio de um peso já morto;
Isento de alma e isento da sua mente.

Há uma imagem querendo-se formar,
Estranha e distante naquela neblina...
Uma noite fria que não quer acabar,
Marcada por uma dor profunda e fina.

A agua apaga aquele fogo,
A brisa traz a geada que se instala,
No exterior ouve-se o uivar de um lobo,
E a tua essência paira na sala.

Congelei na noite em que te foste embora,
Por isso vai! Foge! Deixa-me respirar,
Evapora-te da minha memória!
Eu arfo, eu perco-me apenas por te amar.

2 de março de 2012

Pequeno desabafo a seguir ao Benfica/Porto

Não passa de um desabafo
Eu adoro o Porto, conheci grandes pessoas de lá que hão de ser sempre uma inspiração, mas eles têm demasiada inveja dos lisboetas. Todos eles. É uma coisa que nasce com eles. Aqui em Lisboa a rivalidade é entre Sporting e Benfica, e sendo este primeiro o principal rival do Benfica. O Porto tem como rival o Benfica enquanto este ultimo não se interessa minimamente pelo Porto. Podemos depreender que o Benfica é o rival de todos. É o odiado e invejado por ser o mais forte e o mais perigoso. É o odiado pelos portistas por ser simbolicamente o clube lisboeta.
Os portistas não conseguem aceitar que a capital do país seja Lisboa, os portistas não conseguem admitir que a vida é melhor na capital. Eu adoro a cidade do Porto, mas jamais viveria numa cidade rancorosa e sombria. Lá são só cunhas, só negócios ilícitos, só interesses e aparências. A cidade é mais pequena e daí ser uma espécie de grande aldeia onde todos se conhecem e todos se julgam. Não há privacidade, não há liberdade.
O clima é claramente mais frio e mais chuvoso, o céu está sempre coberto e tira a cor à cidade.
As pessoas são mal educadas ao ponto de rebaixarem os lisboetas. Eu presenciei uma situação bastante triste de uma individua dona de um café na alfandega que teve a lata de nos acusar de mentir e de insinuar que eu estava alterada ao ponto de não poder beber mais álcool (enquanto só tinha bebido uma cerveja).
Filhos da puta, controlem a vossa inveja.

1 de março de 2012

Escrita

Este blog tornou-se num diário online e por muito que a ideia me agrade, não foi o objectivo inicial. Estou a fugir ao propósito sem me aperceber, mas tornou-se tão mais fácil e confortável de escrever sobre mim... São os meus sentimentos, é a minha experiência e o meu sofrimento. É tão pessoal e tão próximo, e revelo tudo o que sinto. Não me protejo o suficiente e tudo isso poderá um dia virar-se contra mim. Tudo o que alguma vez escrevi aqui, vai ficar para sempre registado em meu nome, e nada do que eu possa fazer irá apagar as muitas palavras que deixei escapar entre lágrimas e revolta.
Mas o que é um blog se não isto mesmo? Um blog é um espaço livre onde me posso libertar e é assim que vejo o Indefinido. Chegar de um dia exaustivo e divagar sobre o meu dia é o meu maior prazer. Os resultados não são sempre felizes mas eu escrevo porque escrever me faz feliz, e porquanto escrever se não partilho a minha escrita?
Um blog é um culto egocêntrico e solitário, é uma aglomeração de sentimentos e de vivências. E apesar de este blog estar todo ele escrito na primeira pessoa, não seria nada sem vocês. Vocês são a essência da minha escrita e daí eu ligar tanto ao que recebo das vossas mãos. Todos os escritores escrevem para serem lidos, ninguém escreve para deixar a sua escrita na gaveta.
Tentarei variar os meus propósitos e os meus assuntos trazendo variedade e diversidade à vossa leitura, na esperança de vos aliviar do peso que ponho em cada texto. A verdade é que o meu espírito é triste por natureza, principalmente quando se encontra sozinho e perdido, e isso acontece regularmente. Tenho escrito  mais frequentemente porque tenho-me sentido mais sozinha do que nunca.
É verdade, eu preciso de atenção, preciso de olhos postos em mim, preciso de apoio e de palavras, assim como preciso de um abraço ou de um ombro. Porque por muito egoísta que a raça humana seja, ninguém é feliz sozinho, toda a gente carece de alguém com quem partilhar momentos e experiências. O que é um riso se não há ninguém à volta? Para que é que as pessoas tiram fotografias ou pintam? Todos nós queremos que nos vejam e que vejam o que somos. Muita gente vê, mas raros são aqueles que sentem.
Daí o poder da amizade, que é importante para qualquer pessoa e igualmente equilibrada. Ninguém tem desvantagem ao ter mais um amigo, ninguém perde, ninguém ganha. Têm-se um ao outro e sabem que podem sempre se encostar ao outro quando as coisas correm mal. Podem sorrir e relembrar um acontecimento por muito tempo,
Daí o poder da memória. O que seriam as pessoas sem memória? Daí a Arte para relatar o que a mente esquece e o que o destino perde entre gerações. A arte é uma forma de uma pessoa se expressar, a arte é uma forma de entrar em contacto com os outros, mas acima de tudo, a longo prazo é a melhor maneira de ter a certeza de que nunca cairão no esquecimento. Haverá sempre alguém com a mente, com os olhos ou com as mãos postas nos artistas, porque os artistas são parte da Arte e viverão eternamente nela.