28 de fevereiro de 2019

Permanência do objecto. 
Tu não estás aqui 
mas eu sei que existes 
longe dos meus olhos.

Mas longe deles és vista 
com o meu coração inseguro, 
que carrega nele as memórias 
do abandono que sofreu. 

Já não és só tu. 
És tu dentro de mim, 
Vulnerabilidade que grita
Bem alto. 

Sou eu contra mim que luto 
Pra te voltar a ver,
A ti inteira,
Com os olhos da razão.

21 de fevereiro de 2019


É engraçado como as coisas são e como te são reveladas. A Arte fala-te daquilo que sempre esteve ali mas que tu nunca soubeste expressar. Aparece-te como um "É isto! Eu já sabia", uma certeza de que há outros, de que pertencemos a uma esfera maior - a qualquer coisa que é comum ao próximo. 
Foram algumas as coincidências que me levaram até ao atributo que há 5 minutos contemplei como sendo o principal atributo que aprecio no outro que escolho - que o faz tão Grande aos meus olhos, que encarna coisas que ainda não sou. É facto que esse mesmo se liga - como é expectável - a uma carência minha - e um atributo Louvável. E isso não é mais do que o exemplo que foi escolhido há um ano, pela minha professora de filosofia do amor, para exemplificar a Virtude. A virtude, tema central da ética, área da filosofia que contempla o dever moral na sociedade em prol do Bem Maior. O mesmo que - direi agora antes de tempo - como sendo um dos mais relevantes no que toca à formação do CARÁTER. 
As pessoas tendem a amenizar os prazeres. Tendo vidas altamente calendarizadas sem grande espaço para grandes tumultuos. Sabem o que vão fazer no próximo mês, o espaço que haverá para irem ao ginásio ou descansarem ao sol - se houver! 
Todavia há um caminho alternativo que se estende. Esse caminho é o da Criatividade. E de que se alimenta mais a criatividade em prática, que não da CORAGEM? Coragem de ser, e acima de tudo, de não ser o expectável. De ir por onde os outros não vão e decidir contra as vozes que se querem fazer ouvir. Toda a gente sabe do que falo... Todavia nem toda a gente quer andar perto de quem a personifique - afinal ela choca demasiado com a paz que prezamos que exista. 
É engraçado como as coisas são e como nos são reveladas. Afinal, a Coragem sempre andou perto de mim e "Eu já sabia" mas não soube apreciar correctamente. Afinal, as palavras podem fechar as coisas em caixas tão restritas, mas também é a partir delas que podemos fazer circular o que sentimos, em direcção ao Outro, ecoando dentro dele parte de nós. E que bom que ecoem, e que bom que estejamos vivos!


12 de fevereiro de 2019

Sabes quando embateste de frente
Noutro carro e de lado
Deixaste a confiança que tinhas
Na tua própria condução?

Tão pouco na dos outros
Confiavas... ! Passaste a ser
O co-piloto que sempre odiaste,
De braços levantados e olhos abertos.

Estavas assustada, como é mais
Que natural, porque afinal,
Numa noite embateste de frente
E passaste a ter de andar a pé.

Sobretudo passaste a ter de lidar
Com a culpa que terás tido. Afinal
Todos sabem quão divertido
Era andar contigo ao volante...

Tiveste de fugir dos carros
Que te queriam levar,
Tiveste de deixar que o tempo desse
Espaço para te reconstruires...

Sabes Leonor, ela não diferente...


6 de fevereiro de 2019

Quando era pequena costumava pedir muitas vezes que a minha mãe morresse.
Coitada, não tinha nada contra ela.
Ela não me mandava arrumar o quarto, fazer os trabalhos de casa ou lavar os dentes.
A minha mãe era diferente. 
Comprava-me haagen dazs e recheava a dispensa com as bolachas de que mais gostava.
Fui das primeiras a ter telemóvel e televisão no quarto. A minha caderneta de cromos era sempre a mais preenchida.
E todavia lembro-me de muitas vezes fantasiar com a sua morte.
Imaginava-me a ser acolhida tão carinhosamente nos braços das minhas professoras, a ser levada para casa delas, para um lugar de amor.
Ali em casa eu já era grande. Era eu quem ditava as minhas próprias regras. Sabia a que horas tinha de me deitar para acordar bem, sabia por que ruas podia andar à noite. Conhecia o peso do dinheiro e comecei cedo a gastá-lo em coisas de grande. Assim comecei a querer mostrar a minha maturidade com um cigarro na boca e um copo na mão. O café veio logo a seguir, porque era assim que os adultos aguentavam no meio desta azáfama toda.
A anos luz de tudo isto só consigo estar chateada com a minha avó. Sei que também ela terá feito o melhor que sabia. Mas o melhor não foi bom e traduziu se no que a seguir se passou. Estou chateada por continuar a ouvi-la a responsabilizar toda a gente menos a ela. Somos todas umas estúpidas. Eu e a minha mãe sobretudo, e vamos morrer cedo e ela tinha razão.