24 de janeiro de 2019

Se é no peso que te dou conteúdo, que te assumo no corpo e te carrego em nome das minhas esperanças, é na leveza que me encontro contigo, com o que tu és para além de mim. Contigo e comigo como dois seres individuais, já tão pesados de carregar... 
Mal posso esperar pra deixar de ser o que sempre fui, alguém que se deixa definir pela dor que a habita, uma dor de outros tempos que erroneamente se crêem lá atrás. Eles estão aqui como parte de quem sou, como camada constitutiva do que são os meus medos. 
Não vai ser sempre mau, não é verdade... Sempre ansiei por aquele prado que mais tarde vi a minha mãe pintar... Um sitio em que está sempre sol, em que posso viver quente e tranquila para sempre. Não vai ser sempre tranquilo, há dias em que me sentirei mais segura do que outros. Mas a segurança que procuro do outro obter... Não... Ela está a ser construída por mim, dentro de mim como coisa real. 
Não Leonor, tu já não és a mesma. Nem tu te reconheces como igual.... Olhando para a tua vida, é certo que passaram 5 anos em que não fazes ideia por onde é que andaste... Que confusão... Parece-me outra vida... Que terei feito se não correr atrás de algumas Luzes, agarrar-me à esperança que me traziam e me mantinha aqui.... Nada terá sido muito lúdico, nelas terei sempre depositado o peso de me manter viva, e ninguém quer carregar algo assim, nem mesmo a minha mãe. 
De repente acordo, começo a assumir responsabilidade, a perceber de onde vinha e para onde queria caminhar, e no esforço dos dias dou por mim presa nesta vida, nesta casa, como é que isto aconteceu? Que vida é esta onde vim parar? Onde está toda a gente? Foi há muitos anos que partiram mas parece que só agora é que a ausência deles deixou de viver tão presente em mim... Livre da mesma parece-me agora possível estabelecer pontes entre mim e as pessoas reais que partiram....
Isto faz algum sentido....?

Lembrar-me de onde vim ajuda-me a perceber que vim sozinha, e que o que posso de ti pedir é uma janela para te contemplar. É real a Luz que vejo, é facto que me seduz e me leva a querer encontrá-la, não para a Ter, mas para a Ser. Em ti vejo muitas coisas por aprender, todo um universo pra apreciar. Não desejo contribuir para o peso que já carregas, não desejo também esquecer-me do que estou a construir dentro de mim sozinha. Desejo que sejamos leves e que nos encontremos como seres individuais que somos, já tão pesados de ser...

21 de janeiro de 2019

Não meu amor, não estejas triste,
Das minhas esperanças não tens
Qualquer responsabilidade... Apenas a de
Por entre a multidão me teres vindo
Resgatar, acendendo-me e levando-me,
Sem querer, a crer que havia
Para mim um lugar de amor.
Não meu amor, tu nunca me disseste
E eu a ti também nunca expliquei que
Também precisava...
A ti eu queria contemplar, aprender
O que nunca fora capaz de ser,
E dar-te o que fosse necessário
Para te aquecer.
Não, nem agora desejo ocupar
Espaço na tua dor.
Não quero ser peso nos teus anseios,
Desejava para nós um espaço intermédio
Onde fosse razoável adormecer.
Por favor amor, perdoa-me, eu achava-me
Capaz, mas não sou se não incapaz
Por não me saber capaz.
Estou sempre a tentar ser aquilo
Que ainda não sou,
Presa na discrepância entre aquilo
Que é e o que quero que seja.
Eterna insatisfação que ora é motor
Para me ir tornando,
Ora é impeditivo para me
Ir aceitando...
Não consigo não querer abraçar
O que de triste em ti existe,
E todavia, não querendo querer
Quero para mim o mesmo...
....Ainda bem que não o fazes,
Mas quem me dera que o fizesses!


18 de janeiro de 2019

Saturno não leves minha mãe

Mãe, estamos a chegar ao momento
Em que os astros se vão cruzar, medir forças,
E o impacto deles
Dependerá do quanto quiser ficar.

Não estou certa da vontade que tem
Em continuar,
Tudo o que amava, para onde foi?
Espero por favor que não contemple como eu
Estas perguntas que não interessam à vida.
Deixe-as para mim mãe,
Sabe como sou!
Como tão bem me alimento da dor
Que ainda não chegou...

6 de janeiro de 2019

Há dias em que questiono a tal "força" que adquiri, a maneira mais calma como me fui desenvolvendo. Se estou hoje mais capaz, também se deve ao facto de ter reduzido exponencialmente as expectativas que tinha das coisas e das pessoas. De ter voltado a atenção para mim e para os meus desejos mais íntimos. De ter parado de estender tantas mãos e depositar tanto no Outro. Tenho hoje como eles a vida totalmente calendarizada, sei onde estarei nos próximos cinco anos, de segunda a sexta. Os momentos hoje são projectados no futuro, vejo imediatamente as implicações dos meus impulsos, e nego-os. É verdade que as coisas já não doiem tanto... Mas também não têm grande sabor. Hoje não estou à mercê dos desejos do Outro. Hoje o poder é meu, mas para quê? Há manhãs em que vejo só uma repetição das mesmas dúvidas, das mesmas mágoas. Estarei eu verdadeiramente renovada. Certamente mais capaz. Mas para quê? O amor continua a ser para mim um verdadeiro antídoto face à monotonia, uma boa janela através da qual podemos contemplar a Beleza que efectivamente existe, um sopro que te torna mais criativa, mas mesmo esse nunca mais será celebrado por mim da mesma forma... Afinal hoje o amor tem de estar também ele encaixado na minha vida super regrada...