12 de abril de 2017

A minha dor é um alarme que ninguém ouve, que numa qualquer noite toca, de mês em mês encontra espaço para gritar, para se entranhar dentro do meu peito e corromper tudo o que a razão tentou construir em todas as outras noites. São noites de volúpia as que vivo, uma constante fuga ao que mais temo, ao peso da estar só, de ser estrangeira, desafinada. Olho à minha volta e confronto-me com a triste realidade de não estar se não a viver uma quimera, de me estar a dedicar em vão, e com tal empenho, às relações que não tardarão em desvanecer, tal como o sentimento que delas nasce, tal como o calor que tão enganosamente penso estar a semear em mim. Nada me parece salvar destas noites em que o mundo desaparece, o manto cai e sou, outra vez, só eu, sou só eu a viver uma existência dedicada aos outros, àqueles que partirão. Eu queria que ficasses, e quantas vezes não falei com outras àcerca do mesmo desejo... Ninguém me rega tão bem quanto eu rego o outro, nunca ninguém é tão hábil a sair de si, a anular-se afim de viver com o outro a vida dele. Também queria quem comigo vivesse a minha vida, alguém para a lamentar ao meu lado, para me dar braços para eu a chorar. Não fosse por isso que me tornei tão perita em cuidar, para espelhar a forma da relação que queria com alguém construir.
Não sei onde quero chegar, é talvez por isso que sinto que cada dia é o último. Vivo na ânsia inconsciente de colmatar o espaço entre mim e a vida, de encontrar o calor que me liga a ela. Por enquanto é só frio, e no entanto amanhã o dia vai nascer...
Merda de herança que recebi por engano e que todavia marca tão alegremente aquilo que sou, aquilo que é a minha luz...