20 de março de 2012

Lúgubre

A vontade de viver leva-me a querer que o tempo é escasso para desperdiçá-lo com coisas segundarias. Com isto chega um certo peso na consciência depois de passar horas deitada na minha cama distraindo-me com ninharias, ou após chorar por alguém que não amo ou que não me quer.
Foi uma semana fúnebre, em que tantas vezes fui confrontada com aquela essência a cadáver e que em todos os casos não soube bem o que dizer. Não conheci nenhum dos falecidos, mas acompanho os vivos que choram a morte.
Foi uma semana feliz para mim, foi uma semana em que, rodeada de tanto preto, só vi a luz do dia, em que todas as ameaças de problemas eram reduzidos a cinzas comparativamente ao dos outros. Não é egoísmo o que relato aqui, é simplesmente respeito. Porque apesar de sentir a tristeza, não posso vomitá-la por não ser sequer do mesmo calibre do que a de quem perdeu alguém. Não posso estar triste pela pessoa estar triste, isso seria apenas empurra-la para um abismo. Posso apenas viver, não posso rir muito, mas posso distrair quem gosto. Porque a experiência diz-me a mim que essa é a melhor forma de esquecer alguma coisa.
Nunca me deparei com a morte de alguém muito próximo, o mais próximo foi um primo que mal recordo. Também  um grande amigo, chamado Jordi que via uma ou duas vezes por ano mas por quem sentia grande admiração e uma outra amiga chamada Ana, que acompanhou a minha infância. De resto, vi muitos gatos e cães meus morrerem, chorei por alguns, e esqueci outros.
Sei que é arriscado de meditar sobre este assunto, sem que é indelicado e perigoso, sei que todas as réguas são poucas para medir as minha palavras mas queria apenas com isto salientar o quanto eu lamento, com a mais pura sinceridade. Não sei o que dizer mais, não sei como aliviar a vossa mágoa, não sei como reagir e como me exprimir mas só quero que saibam que não ficaram sozinhas neste mundo...nós estamos aqui. Mesmo que não sejamos sequer comparáveis ao que perderam, somos alguém que ainda podem agarrar, somos a vida, somos o pouco tempo que resta.
Já perdi alguém de muito especial, talvez a mais especial que já tive, talvez a mais completa e próxima, e chorei, e parei, e passei muito tempo enganando a minha consciência. A morte foi apenas psicológica, o corpo permaneceu intacto, e vê-lo era apenas uma ilusão que me puxava para o abismo. Porque ele era real, esteve sempre à minha frente, e o corpo estava la, a mente já não, e foi aí que percebera que o perdera para sempre...

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