Tanto tempo à espera
deste momento, porque o deixaria passar? De volta a mim, à maluca, desajeitada,
que se ajoelha, que insiste em olhá-las desta perspectiva, que se despe, que
rasteja, que se inunda em álcool, que permanece impotente no chão, levando o
seu desespero ao limite, descuidando-se, deixando que elas vejam as minhas
impurezas, cabelo desgrenhado, à chuva, coberta de lama e de cicatrizes. Não,
eu não me levantarei. Aqui sou mais eu, aqui tudo é por mim. Aqui sonho-as, aqui
invento-as. Não me pintarei mais bonita, ficarei aqui à espera que um dia ela
passe com o seu chapéu de chuva e me leve para casa e me lave, e me aqueça, e
me olhe de frente, como tantas vezes imaginei.
Mais um inverno que se
aproxima.
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