Passei tanto tempo em labirintos, entrando de porta em porta, esperando um dia alcançar O Jardim, sonhando, imaginando que aquele seria o mais belo de todos. Tanto me esforcei para abrir portas que estavam trancadas, tanto insisti e tantas vezes voltei para trás de mãos a abanar. E quando finalmente abri a porta certa, os meus olhos não queriam acreditar, lá estava o jardim que tantas vezes imaginei, londrino, cheio de relva, de árvores, de esquilos e de patos! Uma verdadeira utopia. Quando foi que me esqueci que o inverno existia? Quando foi que te vi a envelhecer a meu lado? A magia não durou muito tempo, as folhas foram secando e caindo, uma a uma, a relva foi perdendo a cor, e eu de costas para toda essa decadência, apreciando o lago, cega, não me apercebendo que todos à minha volta partiam para se abrigarem da tempestade que se avizinhava. Não me apercebendo que era a única que ainda acreditava na tranquilidade daquele jardim.
Enfim, parte de mim ficou lá, e o que escapou consigo traz as mais negras recordações, assim como a voz do Reis a sussurrar constantemente tudo acaba, enquanto suspira pela Lídia.
Rrrrrrr cabrão! Larga-me Reis! Tira de mim este peso, este medo, esta angústia, esta náusea!
Deixa-me continuar a abrir portas, deixa-me acreditar que não é uma fatalidade! Deixa-me acreditar que nem tudo são pontos, que também há linhas, que há soluções, que vale a pena lutar, que vale a pena acreditar!
Baza meu, não me assustas mais, seu frustrado de merda! Aposto que vives diariamente com o peso do arrependimento, arrependimento de teres visto a Lidia passar à tua frente e de nunca a teres agarrado.
Jamais serei como tu, jamais perderei esta fome que me é tão característica. Este brilho, esta certeza de que o mundo está à minha frente à espera que eu o conquiste!
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