14 de setembro de 2014

Sinto-me alheia, outra vez este sentimento de não pertencer a nenhum lado, de ser estrangeira, de falar uma língua só minha, de ser uma impostora, um peso a mais nesta sociedade, alguém que se arrasta, alguém que não ambiciona nada daquilo que ela tem para oferecer.
O verão está a acabar e vejo-os sorridentes a lavarem o sal que lhes cobre o corpo, a se despedirem das noites de bebedeiras e de volúpia, e eu, para onde vou agora que fiquei sem eles aqui? Mais um ano, mais uma tentativa e sempre a certeza de que a minha prioridade é outra, a de sentir, a de viver, em vez de ler livros sobre o sentir ou o viver. Como compreendê-los ali tão distantes? Tenho sede de me voltar a aventurar em terras perigosas, onde ninguém é capaz de me dar aquilo que eu dou, onde me sinto desafinada, com os padrões errados, arriscando a vida por aquilo que se fez grande aos meus olhos, mas que no seu reflexo é tão pequeno. Outra vez aquele monstro a querer entrar, a querer-se apoderar desta fraqueza, da minha cama. De quem herdei este medo pela noite? Quando foi que vi nos outros um significado para a minha própria existência? 

Será que serei eternamente a esmagada, a deixada à beira da estrada? Será que ninguém é capaz de me amar como eu amo? Ou será que sou eu que sou incapaz de amar quem me ama dessa forma? 

Prefiro admirá-las bem ao longe, de nunca as sentir minhas e saborear aquilo que elas refletem; a esperança. Quando chegam a mim já são imperfeitas, e percebo que o brilho que as envolve não é se não o meu brilho. Que fiquem ali, bem longe para eu poder correr atrás delas e deliciar-me com tal esplendor!  

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