22 de março de 2018


Não te sei dar sentido, no entanto, houve tanta coisa que através de ti ganhou sentido.
Vinha de uma curva agitada da vida em que as relações que estabelecia eram delicadas, fugazes, faltava-lhes qualquer coisa de mais quente, um encontro de valores e de crenças. E quando apareceste foi muito óbvia a conexão que estabelecemos, a naturalidade com que te encaixaste nos meus dias, como me cheiraste desde logo a casa. Procurava há muito tempo alguém que a incorporasse, que andasse ao meu lado e me soubesse ler os passos.
Os beijinhos que não me deste foram a porta para aqueles que me fui dando a mim. Afinal, não precisava dos teus mas sim dos meus, com a certeza de que a ausência dos teus não significava a ausência de um sentimento mais forte que nos unia, e que, afinal de contas, eu presava mais. Tu também vinhas de uma qualquer curva atribulada, tinhas também tu as tuas vontades, a tua História, e se tanto te queria encontrar, tinha de aceitar que o nosso aparente desencontro em nada falava de mim, do meu valor, mas da nossa soma enquanto duas variáveis diferentes.
Não te sei dar um sentido, no entanto, senti a necessidade de encontrar um.
Foste a ponte que me uniu a mim, vi espelhada em ti a Casa que sempre quis, um sitio onde podia sempre adormecer, onde não era gira ou feia, engraçada ou aborrecida, onde estava e isso chegava. És agora parte de quem sou, estás na memória como estás na vontade. Vontade de encontrar de novo este lugar onde a minha luz existe sempre.

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