29 de janeiro de 2015

Não te quis mais perto para nunca te ter mais longe. Apareceste partida e eu dediquei-te meses da minha vida para te reparar, para te aquecer, para que voltasses a confiar nesta vida. E esforcei-me todos os dias para te ser sol, para te ser paz, e tu abraçaste-me, deixaste-me entrar no teu mundo e eu fiz tudo para o tornar melhor. Mostrei-te os melhores sítios, cozinhei para ti os melhores pratos, abri as portas de minha casa a todos os que te eram queridos, e paguei-te mais imperiais, mais taxis, tudo para que suportasses as noites, tudo para que não te cansasses. E tu preencheste as minhas horas, os meus dias, e tão rápido se passaram meses. E a cada semana me tentavas afastar, olhavas para todas elas com desejo e esquecias-te de olhar para mim, eu que no fim da noite te envolvia nos meus braços e limpava as tuas feridas enquanto ouvia longos monólogos sobre o mal que elas te tinham feito. E a cada tragédia o desejo de as afugentar para longe de ti, de te prender algures onde elas não te pudessem fazer mal. E mal atingimos o apogeu, não soubemos voar e tudo decresceu, começaste a dormir nos braços de outras, a comer comida congelada, a beber imperiais mortas, a voltar para casa a pé, a criares outra vida, longe de mim. E através da janela do meu quarto, no meu próprio bairro, vi-te a tocar à porta errada, a uma porta que eu própria já tinha tocado. E da janela daquela casa o teu corpo nu nas garras dela, e ela a arranhar-te, deixando-te desfeita no chão. E eu atrás do vidro, impotente sem te poder auxiliar. Quando saíste, em sangue, atravessaste a rua e eu apressei-me a abrir-te a porta, dei-te banho, sequei-te e passei a noite tentando-te acalmar. E no dia seguinte quando acordei já não estavas lá, tinhas ido outra vez para aqueles lençóis sujos para nunca mais voltar... 

Onde é que nos perdemos?
Porra meu, ter-te-ia dedicado muitos mais meses, mas tu nunca me vais ver, pois não?
Eu que tinha tanto para dar...