16 de agosto de 2013

Cativa

Ficarei eternamente cativa nos braços que me abraçarem, nas mãos que me tocarem, sejam elas rugosas, secas, sedosas, porque me faltaram braços e mãos em noites frias e escuras, e sua ausência pesou tanto no meu ser, que abriu um grande vazio na minha alma, que procura se preencher, e que julga encontrar consistência no afecto daqueles braços e daquelas mãos. Coisas estrangeiras e inconsistentes que utilizam o toque para a sedução, e que através deste sentido despertam algo em mim, e se revelam reais, mas tão frágeis pois delas não ecoa nenhum nome. São braços e mãos soltos de um corpo, membros dispersos, sem alma, que me seduzem e me corrompem. Escrava daquelas mãos e daqueles braços, eu cedo por me sentir só. Mas tão rápido me desiludo de toda aquela monotonia, do mesmo caminho tantas vezes repetido, da mesma sensação, efémera, fugaz e melancólica. E a ruptura não se prolonga, chega num dia de manhã, quando a lucidez bate à porta e convida-a a entrar. E a memória daquelas noites faz com que a porta de minha casa fique sempre aberta, aberta a todos os que estiverem lá por mim, e para mim. A casa cheira a egoísmo, raiva e suor, e são poucos aqueles que vieram para ficar, pois o corpo não funciona sem alma, e aquelas mãos e aqueles braços estão isentos de alma, sabor que não alimenta, agua que não tira a sede, eterna ilusão que torna o real ainda mais desejado!

Ficarei eternamente cativa na esperança de um dia sentir com o coração, aqueles braços e aquelas mãos...

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