4 de agosto de 2013

Ser transcendente

Bastava naquela tarde eu não ter sabido que o que procurava estava no bairro alto para não ter ido lá, bastava que essa coisa estivesse la para não me ter encontrado sozinha diante de tanta gente, bastava não ter escolhido aquela rua para não o ter encontrado, bastava que tivesse escolhido outro bar para não as ter conhecido, bastava que os outros estivessem mais animados para eu não voltar, bastava a outra não ter vindo ao meu encontro para eu partir, bastava ela não ter mostrado interesse para eu não te conhecer. Bastava ter escolhido a outra para nunca te voltar a ver, bastava ter encontrado alguém para não a querer, bastava que a que já a tivera não estivesse lá para eu a poder ter, bastava que não tivesses bebido tanto, que as outras tivessem ficado, que uma das outras tivesse tentado, que eu não te tivesse ingenuamente engatado, que eu não estivesse carente, que fosse responsável e tivesse ficado em casa, que não me tivesses dito mais nada, que eu não fosse irresponsável ao ponto de ir sair na véspera de um exame, que o sono tivesse falado mais alto, que o telefone ficasse sem bateria, que ele não tivesse aparecido, que que que....

Tantos acasos que me levaram a este momento, que eu sou tentada a ser um tanto fatalista, ingenuamente penso que só podia estar destinado a acontecer, pois bastava uma mínima coisa para que nada disto fosse real. Tem de existir um elemento adjuvante que força as coisa; o azar, a sorte, não podem ser totalmente aleatórios, há decerto alguém a lançar os dados, há quem lhe chame Deus, Natureza ou outras designações, eu não sei o que é, não sei se é um ser inteligente, ou se é simplesmente uma força, mas a verdade é que o mundo está demasiadamente bem organizado para que o acaso o tivesse criado, e esse Ser tem, sem duvida, de ser um Ser transcendente, ao qual nunca ninguém poderá aceder. Alguém que existe sem existir, e que tem respostas para tudo. Mas seremos então realmente livres? Se ele decide aquilo que é decisivo, o destino daquela jogada de risco, a sorte ou o azar...fará de nós seres livres? Estará a nossa existência nas nossas mãos? Será que a graxa que os homens dão a Deus é suficiente para que a sorte esteja com eles? O que fará com que esse Ser nos dê o privilégio da sorte? Merecê-la através do Bem que espalhamos? Ganhá-la pelas mudanças positivas que trazemos ao mundo? Se é o Bem que nos traz a Sua confiança, então como é que ele deixa que os homens se batam por Ele? Armas de fogo lançadas em Seu nome, homens que procuram espalhar o Seu nome, e o fazem através da força; homens que fazem o Mal julgando fazer o Bem? Como é que Ele o permite?

Nunca ninguém saberá responder com certezas a estas perguntas, mas hoje, encontrei respostas ao comportamento humano, a uma fé reconfortante, a um fanatismo assustador. Percebi a fragilidade dos homens que são consequentemente manobrados por um Ser transcendente, e percebi o porquê das igrejas. Percebi sem nunca me identificar. Não me fio em especulações, e tenho dificuldade em perceber porque é que as desgraças continuam a acontecer a tão boa gente...

Não sei se é Deus, ou outra coisa, mas obrigada por me teres trazido aquilo que tanto pedia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta lindo! Ainda bem que encontraste a tua fonte de inspiração, a tua musa, porque se ela te faz escrever assim deve ser das boas! ;)
Boa sorte Poeta!