4 de abril de 2013

Caixa de plástico

Sinto tão intensamente coisas por quem não amo. Na verdade não amo ninguém, amo o sentimento que reside em mim, e que encontra uma figura para o patrocinar. Estou tão triste com a minha condição... Só me meto em enredos sem fim, quiçá por temer um relacionamento sério, ou quem sabe se não é puro masoquismo... Sofro imensamente por quem não me merece, por quem não deveria haver atracção... Estes últimos meses têm sido uma autentica fonte de mágoa, e por conseguinte, de inspiração. Alimento-a por me sentir bem dentro dela, porém, temo nunca conseguir soltar as amarras que me ligam a ela. É tentador, toda esta desesperança que reside em mim e que tantas vezes se transforma em euforia, que me leva bem alto, e me arrasta lentamente em direcção ao túmulo. Pelo menos deixei algo para trás, ainda que escasso, ainda que sujo, ainda que supérfluo, ficaram cá alguns indícios da minha existência, que um dia serão, certamente, deitados ao lixo. Todas aquelas folhas perdidas num baú de plástico, sem charme, uma simples caixa que insisto em chamar de baú. Uma caixa de plástico que jamais alguém abrirá. Fernando Pessoa tinha um baú digno do seu génio, eu contento-me com uma caixa de plástico, e aspiro a que ela um dia seja vendida em leilão por uma soma considerável de dinheiro. Uma caixa de plástico... E todo o conteúdo? Páginas soltas de um livro que nunca existiu, escritas à pressa, sem pretensões de estilo, ou com pretensões falhadas de estilo. Ai (suspiro) nada cala o meu arfar. Estou em constante correria, rumo a uma quimera, um devaneio, inexistente. Arquitecto tudo na minha mente, em vão... É sempre em vão... Sim, claramente que o problema das raparigas é terem uma mente que se assemelha a um ecrã de televisão, é irem mais longe, afastarem-se demasiado da terra e quererem logo voar. É por isso mesmo que tentei a minha sorte ailleurs, num terreno bem mais sólido (porque bem mais familiar), mas bem mais instável (porque bem mais inconstante). Tenho saudades do que tenho mesmo sabendo que voltará, pois tudo voltará, toda a novidade, toda a correria, toda a desesperança. Porque não nasci como os outros? Não pretendo com isto dizer que sou melhor ou pior, porém, é tão difícil ser quem sou. É tão difícil querer o mundo quando ele goza comigo, é tão difícil sorrir quando não se tem boca para o fazer. Nasci, por alguma razão, com algo a mais, ou talvez tenha sido a sociedade a dar-me esse mais, esse acessório nefasto que me tira tantas vezes o sono, que me leva ao isolamento, que escreve incompreendida na testa e me leva a rastejar... Por muito que tente, nunca poderei pôr fim a esta forte tendência, nunca poderei fugir à minha condição, à sede excessiva do universo, ao paradoxo constante do meu ser, à  bebedeira de paixão, à fuga à finitude, à azáfama disto tudo misturado, e à incapacidade de sacudir a sujidade que ela deixa...

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