29 de março de 2013

Desejando o inatingível

Tenho medo de ficar sozinha, tenho medo de ficar sozinha por escolha própria. Procuro o inatingível por ter medo de me envolver, porque por alguma razão, que desconheço, não consigo envolver-me sem achar degradante. De repente deixo de ser livre e dou-me a alguém, e vivo a dois, e deixo de poder desistir de programas que me aborrecem, que não me inspiram... Sou um ser egoísta, que se da a outro quando o outro não o vê. Que grita, que canta, que não se cala, esgotando toda a novidade que a música pode trazer, não deixando espaço para o silêncio, não deixando espaço para o desejo alheio. Pinto-me feia para que não me vejam, pinto-me feia para tornar o objecto visado em algo de inatingível  Ninguém quer coisas baixas, e eu reduzo-me a um nada, uma coisa assegurada que não vale a pena ter, pois anulo a possibilidade de luta e dou-me inteira a quem desejo. Cavo o meu próprio túmulo, sou um ser masoquista que nunca está feliz, que aumenta o ego dando o silêncio a quem não deseja, fazendo-os desejar, rastejar e correr atrás de mim, sabendo que nunca abrirei os braços àqueles que o fazem. E sei que eles virão, no entanto, também sei que faço o mesmo pelos outros, que me ajoelho, que rastejo, que corro, que me degrado, e que desse modo, nunca os terei. Por isso depreendo que não procuro ser desejada, mas arranjar um pretexto para estar sozinha. Mas parece tão real, anseio por estar a teu lado, por te amar e por ser amada, porém, sei que quando chegar ao pé de ti, serás apenas mais uma coisa por quem já não valerá a pena de me ajoelhar, rastejar e correr...E no entanto continuo dizendo que te amo, que és tu, que não é ele, e que todo o processo será compensado, por te amar, ainda que seja só por seres inatingível..

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