25 de março de 2013

Televisor

Imaginação, será esse o nosso problema? Eu digo-te, imaginação não me falta a teu respeito. Imagino tudo, até coisas que nunca vivi, e que nem sei como viver. Imagino o desconhecido, o néant, o invisível.  Imagino mil e uma coisas que nunca vi, que ninguém vê, mas que contigo veria. Tenho pensado em ti, tanto... E sempre que penso que as coisas estão bem, estragas tudo, deitas o meu televisor ao chão e saltas para cima dele partindo o vidro do ecrã. E eu vejo-te a fazê-lo, e choro em silêncio. Baixo-me para apanhar a porcaria, e volto para casa afim de o concertar. E concerto-o sempre, colando cada pedaço de vidro com fita cola, unindo cada pedaço. E volto a projectar nele todos os meus sonhos, e crio filmes, sagas, séries, sequências que tantas vezes se contradizem, mas que projectam sempre uma felicidade imensa.
E abraço essas imagens... São quase palpáveis de tão reais que são. Até consigo ouvir os sons! O teu riso! A tua forma estranha de pronunciar o meu nome! Outra vez! Por favor, outra vez, Leonor, sim, consigo ouvir! És mesmo tu? Como fazes para falar com tanta calma? Que sotaque é esse? Espanhol, francês? De onde vens tu? Quero que abras o teu baú e me mostres todas as fotografias esquecidas no tempo, todos os diários inacabados, todos os objectos inúteis pelos quais zelas tanto. Quero abrir o livro da tua existência e escrever nele. Quero que me mostres tu também o teu televisor, e quero estar nele! Quero que me mostres os teus projectos, quero estar sempre a teu lado, e quero que me vejas... por favor vê-me!
Tudo arde em mim, quero correr, quero lutar, ir atrás de ti, deixar tudo e todos, sair desta vida terrena, e voar, amar-te loucamente algures na Índia, em África  no deserto, na floresta, onde tu quiseres, mas ao sol! Quero que sejas parte de mim, dormir todos os dias abraçada a ti, ver-te dormir, ver-te correr, ver-te sorrir. Por favor, mostra-me o teu televisor, faz de mim a personagem principal, eu até me maquilho se quiseres! Por ti maquilho-me e até ponho um vestido! Estou-te a esboçar o meu televisor, por isso, por favor meu amor, deixa-me ver o teu!  Não me deixes nesta aflição, neste impasse, nesta angústia sem fim... Mostra-me o teu televisor... E se não for pedir muito... ama-me como eu te amo!

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