31 de janeiro de 2012

Vazio

Se me perguntarem se ainda gosto dele, respondo que há muito tempo que já não o amo. Há muito que o seu ser é apenas uma inspiração e uma fonte de sofrimento. Masoquista? Não, tudo o que faço é explorar uma dor, tirando partido dela. Já que a tenho, pelo menos que ela seja útil. Acontece-me muitas vezes este fenómeno, daí eu demorar tanto tempo a soltar-me das coisas. Hoje que, pela primeira vez admito que já não o amo, estou mais triste do que quando o amava. Estou perdida, a minha vida esvaziou-se. Qual é o sentido da vida hoje? O que é que me move? O que é que me faz acordar todas as manhãs? O vazio é um inimigo difícil de combater. Porque ele está presente e só deixa de estar, quando nos esquecemos dele. Tenho vivido com ele, tenho sentido um nó no estômago, e tenho estado arrepiada com o excesso de sofrimento que o não-sofrimento me traz. É paradoxal o que digo, mas é verdadeiro. Quero lutar por alguém que me dê luta. Quero ter um propósito.
O vazio traz me sofrimento mas esta dor é aguda e incisiva, e para além do mais, é extremamente difícil de ser descrita. Perguntam-me o que se passa e a minha vontade é de contar, é de esmiuçar cada centímetro de mágoa e transmiti-la, infelizmente as palavras não saem e a vergonha cala a minha mente. Tenho estado rodeada de problemas mais sérios do que os meus e tenho sido egoísta em desvalorizá-los. Mas porque é que me sinto assim? Cada pessoa tem a sua maneira de sofrer e de lidar com os problemas. Como é que alguém pode medir o tamanho da minha dor? Eu que a vejo e que lido com ela, não a conheço: é tão inacessível, tão aguda e tão negra. Doí me ter de sorrir quando quero chorar, doí me porque estou sozinha...

2 comentários:

Catarina Silva disse...

It happens...Todos nos sentimos assim, estou contigo!

Gosto muito do texto, muito bem escrito :)

Béa Carrillo Vega disse...

Tens de escrever em francês... Gosto o que compreendo do texto. Mas quero compreender tudo! :)