24 de janeiro de 2012

Pensando em si

É tão triste chegar a uma certa idade e perceber que muita coisa foi esquecida, foi perdida ou deixada de lado. Um amor, um sonho, uma ambição. Eu vi o seu olhar perdido, envolvido num banho de memórias transmitidas pela música que ouvia. Reparei que a sua mente estava longe, bem longe, num mundo que já não existia, com aquele que já seguiu em frente. Como é que se perde a esperança dessa maneira? A idade pesa, as experiências são desmotivadoras, e onde ficou o paixão? Onde ficou aquela doença que a levava a procurar o outro de pés descalços no meio de uma tempestade? As ideias revolucionarias, a ambição, a vontade! Onde ficou tudo isso? Tenho dezasseis anos e admito que tal ideia me assusta e me cobre de insegurança. Serei assim tão ingénua por ambicionar mais?
Não desista, nunca é tarde.
Acredito que fora trazida para onde está pelas desilusões, e pela rotina. Acredito que tenha vivido a vida sem olhar para ela, vendo-a passar sem a agarrar. Dia, após dia. Foi um longo caminho, mas breve para a mente cega e passiva. Acordar é um pesadelo. Olha para trás e não vê nada, olha à sua volta e sucessivamente desaparece tudo. A solidão consome lhe a alma, e a depressão aparece.
A dúvida, a angústia, o sofrimento... É uma saudade melancólica. É uma morte. Ninguém ambiciona chegar à sua idade sem filhos e sabendo que os que estão à sua volta, ou, não tardarão a sair, ou, vão tão rápido como vieram. Os filhos servem para isso, os filhos são um apoio, são uma razão. É a certeza de que vencemos, é a certeza de que nunca estaremos sós e nunca seremos esquecidas. Os filhos são a sucessão, são o futuro. Pode ter sobrinhos, mas de que serve? Há uma distância, há uma barreira.
São poucos aqueles que refazem a vida na sua idade, mas são honrados os que o fazem.
Chegar a casa, fazer o jantar, ver televisão, dormir, acordar, almoçar, trabalhar... A solidão é talvez a doença mais dolorosa de todas; é ver muitas pessoas mas não sentir ninguém.
Mas fique sabendo, minha cara, que eu não a esquecerei. Deu me uma mochila recheada de conhecimentos, de perspectivas, de métodos, e de reflexões. Deu me o gosto pelo que faço, e isso, minha cara, é arte. Isto sim é entregar-se ao que faz, isto sim é ter sucesso. Não olhe para a solidão, não olhe para a rotina, reviva. O tempo que resta é suficiente para o que sonhou. Quando sentir que não contribuiu em nada para a sociedade, lembre-se que a si a ouviram centenas de pessoas. Não se esqueça que a si lhe devem muita sabedoria e muitas opiniões. Mesmo que não esteja na nossa memória, está na nossa maneira de ser. 
Obrigada e coragem, a partir daqui, o caminho é lento, árduo, e cansativo.

1 comentário:

Anónimo disse...

gosto imenso leo