29 de junho de 2011

A Abelha.

Desde pequena que como uvas. Adorava ir colhe-las na horta da minha avó. Variava muito na raça deste fruto: tanto Americanas, tanto brancas como encarnadas. Numa bela tarde de Agosto, no meio das vinhas vi uma abelha. E a partir desse momento, jamais consegui larga-la. Até que um dia ela picou-me quando eu tentava salva-la. Bati-lhe sem intenções de a magoar. E ela fugiu. Desapareceu, e nem me disse adeus. Todos os dias esperava o seu regresso mas tudo em vão. Era de vez... Mas como cresci de sonhos, acreditei que ela voltaria. Agarrei-me à esperança, agarrei-me às recordações, até me agarrei ao mel que ela em tempos fabricou. Mas ela nunca regressou. Continuo à espera mesmo sabendo que as abelhas não têm uma grande memória (alias, tal como qualquer insecto). Porque é que a vida é tão cruel? Tantas vezes eu revejo o momento em que ela voou para longe e eu fiquei a vê-la afastando-se, sabendo que me arrependeria se não a impedisse mas presa pelo orgulho... Criei esse momento, revivi à minha maneira na esperança de voltar atrás no tempo. Imaginei-me a agarrá-la e a pedir-lhe desculpa. O pior é quando olho para a picada que continua gravada perto do coração....É um misto de nostalgia e de revolta. Por que raio é que a minha memória não é fraca? Continuo com esperanças de ver aquela maluca a voltar voando para o meu ombro. Porque ela moldou o meu ser, fez me ver mais do que o mundo humano. Com ela passei tardes, manhãs, dias e noites...até mesmo madrugadas frias.... Com ela falava por pensamentos, o silêncio era sempre parcial ao ponto de não incomodar. Ainda acredito, mas tudo isto é como uma corda com um tesouro prometido no final, uma corda muito comprida que vamos puxando, puxando, puxando, e pouco a pouco o sorriso evapora-se da cara e os braços começam a dar sinais de cansaço, para não falar da mente... Mas por mais que tudo isto falhe, continuamos a puxar a corda com a mente que apesar de cansada, está dependente do tesouro para avançar.
Nem com a vespa que apareceu eu consigo esquecer a abelha. Terei de pagar por isso? Não quero ser eu o insecticida. Só quero paz...e a paz está com a abelha.