28 de março de 2024


Esta noite deixei a tua mãe doente
Os pais dela em pânico, pais que eram
Os meus próprios avós.
Ela ia morrer, não havia dúvidas, 
Mas ela fingia-se interessada 
Em mostrar-me qualquer coisa que estava ali na sala.

Mas de ti ninguém esconde nada
E fui encontrar-te junto à máquina de kebab
A desfiar a carne como quem desfia a injustiça 
Até à razão, ao núcleo amoral do evento, 
Desta vez, não poderia haver um, 
Qual processo ou merda que te disseram na Biodanza 
O universo que escolhesse outra rota
A tua mãe não ia a lado nenhum. 

Tanto que não ia que compraste 
Bilhetes para um concerto
Perguntaste-me se ia, e eu inventei um gajo 
Para vir comigo.
Trouxe o gajo, tu viste-o
E tornamo-nos na hipotenusa
Enquanto eu sagrava no chão 
Esquecendo-me que éramos tu e eu soma 
Da vossa relação, em ângulo reto,
Segmento curto que termina em alta tensão.

Adoeci a tua mãe mas os pais dela
Eram os meus avós 
E a tua mãe talvez fosse a minha, 
Se a Margarida tivesse estado 
Preocupada em proteger-me.

Adoeci a tua mãe e finalmente entrei em tua casa
Encontrei o espaço habitual no meio do teu sofrimento
Depois fomos para a rua e é sempre o masculino que não sei ser
Quando a emoção escapa do meu corpo
E vem para a boca gritar. 
O corpo não se esquece,
De todas as pedras que atiraste
De todas as vezes que disseste que eu era passagem,
Espaço transitório entre mim e outro,
Prazo de validade a expirar,
Semente do abandono.


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