30 de abril de 2023

     Queria ver o real dentro do imaginado, e tantas vezes procurava pelo escondido, mas sempre confundi as pessoas com algo de estático, o quadro da minha mãe, aquele prado ao sol, com um portão no fundo. Uma fotografia, um retrato, a fixação num só ponto de uma ideia que nunca teve a possibilidade de ver o tempo passar, de se transformar. O saturno, a estrutura, só consegue existir com o tempo, tempo que vai revelando os contornos, complexificando as coisas. Ela disse-me que tinha a impressão que eu, por vezes, cristalizava certas ideias que tinha sobre ela, tomando-as como tudo o que existia. Eu, a querer proteger-me, a separar as coisas em bom ou mau, tudo ou nada. Velho hábito, que agora consigo contemplar. Tantos anos para perceber o que é que eu estava a fazer... Eterno eco, leit motif da minha vida, tema que não se finda... Eu quis parar de o fazer, atentando-me ao que era, mas esqueci-me de dar tempo, e só contemplei o seu andar demorado, o que ali estava, no momento, o quadro do prado, instante parado.

    Comigo foi sempre tudo mais urgente. 


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