11 de abril de 2023

     Na quinta-feira passada, sai do consultório da minha terapeuta chateada, "se sucumbires à sensação, vais perder a realidade" - dizia ela. Eu, insuflada por aquele ímpeto de paixão, não quis ouvir nada do que ela me dizia - "que importa se não for real...". Sinto-me atraída, tenho de ir lá ver o que há para aprender. Ainda nem tinha dobrado a esquina e já lhe estava a ligar, eu a querer provar a realidade do meu sentimento, o quão certo era estarmos juntas - ficámos longas horas ao telefone, a contemplar o quão bizarro era que tivéssemos tanto a dizer. Fui atrás de uma ideia, e voltei com a certeza de que as coisas são sempre muito mais complexas, que eu posso colocar coisas dentro dela, mas ela nunca vai ser eu. A forma como contemplo o sofrimento alheio, como quero cuidar dele, nunca é totalmente generosa a minha intenção. Faço pelo outro o que gostaria que fizessem por mim, confundindo-me com ela, mas no final, ninguém me vai conhecer tão bem quanto eu própria, ninguém vai ser tão capaz de me dar o que preciso, como eu. Posto isto, vale sempre a pena ir, há sempre algo a retirar numa pessoa que aparece, num universo que se abre. 

    No meu dedo, a marca do sol que me queimou desde que te conheço, como prova da tua passagem por mim, mais do que o anel que ficou, a marca como substância de tempo que nos percorreu. Gostava que tivesse passado o verão, gostava de ter visto toda a realidade, para lá da quimera. Gostava de a ter aceite com menos dor, com menos urgência de um agora. Prolongo a nossa história nestas linhas, à procura de a celebrar, honrar, fazer durar. Podia haver mais certo? Talvez, mas acho que o certo é sempre onde estamos.

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