7 de novembro de 2021

 Nesta luta contra mim, eu perco sempre. Nas tentativas vãs de colocar fora de mim esta critica excessiva, eu acabo virando a agressividade contra mim. Debaixo da porta espreita o velho fantasma da minha infância. Devia ser melhor, devia ser como aquela que idealizo ser e que tantas vezes sou. Tropeço em detalhes menos glamorosos e sem que eu tenha qualquer controlo, eles agarram-se à minha perna como raízes que me prendem numa poça de solidão. Porque já sou mais crescida, lembro os mecanismos sãos que fui encontrando para me dar algum amparo, Leonor contentor. Dirijo-me então à biblioteca, abro um livro e começo a crescer noutros lugares, deixo as palavras ecoarem dentro de mim como caminhos novos que se estendem. Lá estou eu outra vez, na pressa de ser já outra coisa, conter o que sinto, passar à frente, manter-me inteira, integra, alta e nobre, com muito zelo para não magoar ninguém. Mas se ao menos tudo isto fosse por mim! Do fundo do vaso, um medo latente se esconde, medo que é motor, ferida narcísica que se abre de rompante. Para os outros eu tenho todas as desculpas, todas as justificações. Afinal, antiga é a mágoa de não ter sido cuidada nos momentos em que não era luz. Se ela tivesse ouvido os meus choros, ela estaria a abraçar a criança que dentro dela também chora. Ela não a quer ver, e por isso desculpa-se culpando-me. Sem espaço para ser, interiorizo uma voz que me paralisa, inibe, me mantém bem arrumada, com uma mão sempre atrás das costas. Atenta, espero o momento certo para voltar para o seu colo. Se ao menos o colo existisse sempre...


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