17 de setembro de 2021

Ontem fui perseguida por um velho sentimento. Vi-o a pairar em cima de mim, a beliscar-me, a tentar invadir o meu corpo que, afim de me proteger, criou por cima da pele uma camada de medo. Aquelas ideias irreversíveis a voltarem, eu ia enlouquecer... mas calma Leonor, se estás neurótica, com medo do que está para vir, inundada em terror, lembra-te daquela página em branco onde escreveste aqueles apontamentos: um ataque de pânico, é agudo mas transitório. Os neuróticos não ficam psicóticos, Leonor, repete enquanto inspiras. E via-me na fronteira entre esta realidade e uma em que ficaria eternamente apartada dos outros, presa da minha própria dor, num medo constante, paralisante, que vinha de dentro de mim. Vou morrer e serei sempre esta inútil que nada fez, que não resistiu. Morrer era ficar sozinha, ficar sozinha seria a minha morte. Lembro-me de pensar no que já tinha feito, no que deixei narrado em tantas páginas, no valor que descobririam em mim. Eu não ia somente morrer, eu teria tido valor para alguém - há pessoas que te admiram Leonor, lembra-te... Mas certos erros pareciam irreversíveis, eu era eles, e eles eram suficientes para eu vir a ser abandonada.

- Os neuróticos não ficam psicóticos, Leonor, respira.

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