8 de setembro de 2020

      Há muitos amores atrás que tento praticar a abnegação total do meu ego em prol da aceitação completa do outro. Todavia, longe estive sempre eu de me esquecer de mim, de não pedir em troca algumas coisas também. Havia, contudo, uma certa fixação por provar o valor do meu sentimento. Afinal, se tanto contemplava o objecto, se tanto o cantava, se por ele eu me ajoelhava e descobria o maior do encantos, dele eu tinha de aceitar a sua realidade sem reclamar. Realidade essa que embatia contra os meus sonhos. Expectativas que tornavam o objecto cada vez menos ele, e cada vez mais eu. 

    Afinal, que fiz eu se não apartar o objecto da sua verdade, levá-lo para um espaço de luz que eu fiz surgir. Sim, o Sonho era todo meu, a luz era toda minha. E na paz desta recordação eu descubro que poderei ter transformado alguns objectos, que poderei ter embelezado uns quantos - para sempre. 

Assim esperava eu, distribuir um amor tão infinito, tão puro, tão belo. 

    Mas depois ela foi-se embora e nunca mais me falou. Nunca voltou atrás para me agradecer, para me abraçar, para me dizer que lhe terei salvo a vida. Ninguém voltou atrás. 

1 comentário:

Zé do Pipo disse...

Mas olha que eles voltam...Voltam sempre...