Pedes-me os meus olhos
Para poderes olhar para ti.
Assim chegas semanalmente;
Consulta de fim de tarde.
Sentes-te observada por mim,
Mas és tu quem te vê,
Eu não sou se não estrada até lá,
Ao volante és tu, vida à dentro.
Aos outros espelhos, que será
Que tu contarás? Eu não sou como
Eles. De mim ecoam bonitas palavras,
Mas no espelho és tu, e terás outras.
Reminiscências que procuram emergir,
Pedaços dolorosos do que foi -
A ser representados, vividos outra vez,
Sob a proteção dos meus braços,
"Eu não te vou deixar, está tudo bem",
Grito eu, agarrando o peso daquilo que vês.
Não te queria conduzir até a um sítio
Escuro e deixar-te lá. Não vás.
E tu vais, por hoje já foi suficiente.
Se amanhã acordares, longe de mim
Encontrarás paz. Longe de mim,
A possibilidade de não mais olhar.
Então longe de mim mas ainda
Dentro de ti, emergem imagens.
A dormir dói menos, a dormir
Tudo é possível, até o impossível.
A dormir também estou eu,
À espera de poder voltar a existir
Eu que para mim escolho contar
Com tão pouco de ti. E todavia,
A dormir dói menos, a dormir
tudo é possível, até o impossível...
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