9 de setembro de 2018

Fedro, Bauman e eu

Quando pela primeira vez apreciei a Beleza de um corpo, fui enfeitiçada pela luz que o mesmo emanou, no outro eu pude pela primeira vez espelhar todas as minhas esperanças. Ela era tela branca onde eu podia desenhar o prado mais bonito, aquele que via em filmes e transportava para aquilo que era o meu desejo. Enfim o corpo se ergueu e se agitou, exaltado, por não se querer deixar moldar pelas minhas mãos. Afinal era ele cavalo bravo que queria correr e o prado verde, era prado que vivia dentro de mim. Desolada e com os meus sonhos nas mãos, encontrei alguém que me acarinhou e adormeceu, percebi então que a Beleza não era de um só corpo, mas de vários, era das altas ideias que procurava. Ali estava uma delas, o Conforto. Assim foram desfilando os corpos e em cada um deles fui estando mais próxima daquilo que procurava. Mas isso era no tempo em que contava com o outro para encontrar o que precisava, que nele aportava e depositava as minhas poupanças na expectativa de que o meu investimento resultasse na minha riqueza. Mas ninguém cá está para o fazer por ti, e tudo o que fiz foi perder sempre a pessoa para os braços de outra, porque para que o pedestal exista, precisas de alguém lá em baixo a tratar dele. E quem olharia para baixo? Tornei-as Deusas e elas não hesitaram em ir procurar outros seres divinos, afinal de contas eu nunca pertenci ao Olimpo, fiquei sempre à porta... Mais tarde deu-se uma revolução, foi o momento em que finalmente comecei a olhar para mim e a reconhecer braços de Luz que se queriam soltar, comecei a apreciar traços meus, a ter ideias de sítios para onde queria ir. Agora não era mais para colmatar a Falta que procurava o outro, mas para multiplicar as minhas próprias qualidades. Queria alguém com quem as pudesse desenvolver. Da alteridade vou assim aprendendo e conquistando o meu lugar no mundo, aprimorando-me a mim e a ele, como ser Politico que sou vou ensinando o quanto consiga, aspirando assim a ser luz para outros. Afinal, procuramos sempre a Luz não para a Ter mas para a Ser, tornando-se assim o Amante no Ser Amado.












(É curiosamente parecido com o prado que Ela imaginou em 2002. Precisamente nesse ano triste em que deixámos de ser uma família...)

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