26 de julho de 2018

Hoje senti-me um filósofo helenístico. Estive a ler atentamente um capitulo recapitulador sobre ascensão do Social no mundo ocidental, tarefa que me estava a ser bastante penosa, demorada, e dei por mim a pensar que não podia ter havido tanta gente a discorrer tão detalhadamente sobre tantas coisas. Sentou-se alguém um dia numa secretária e deu-se-lhe o desafio de teorizar eruditamente sobre as actividades humanas, procurando ser o menos acessível possível à compreensão dos meros mortais, sendo então a escrita dirigida apenas aos membros da academia, outros eruditos que viviam e vivem afastados do mundo real. Leva-me a crer que o Fim que procuravam era um fim pouco comunitário, e mais em busca de satisfazer o tédio da rotina frugal ou o desejo de aspirar à imortalidade. Tive de interromper abruptamente o processo, deixando a página metade riscada e senti a necessidade de ir cogitar para a horta, reunir-me com o mundo real das coisas, sentir o calor sobre a pele e reunir-me com o meu corpo e o meu corpo com os elementos. Eu aqui, habitante desta ordem, descarga de energia metafisica, ponto de intersecção de diversos conflitos e harmonias, potencial transformador daquilo que me é extenso, mão bem visível, desvio de padrão, fenómeno, ou nada disso. Nós temos de ser círculos, não somos rectas, nada é recto na existência, e enquanto existimos aqui, existimos no passado e no futuro, é o próprio tempo um circulo inconcebível à luz humana, sendo a intuição um processo energético que nos permite de adivinhar o futuro que já está a acontecer. Quando atento ao tempo que já lá vai, consigo identificar as pequenas coisas que me trouxeram até aqui, principalmente aquelas que por mero acaso me trouxeram até aqui. Aquele livro escondido que peguei por engano na biblioteca, aquela em que tropecei e me levou para sítios nunca antes explorados.
E se fossemos apenas uma mera memória de um povo antigo, nós já habitantes de um novo cosmos com uma janela para aqui. E se já tivermos vivido em marte, e se nós formos os próprios dos alienígenas que nos assombram. E se formos apenas células mais complexas de um organismo muito maior? 
Não Leonor, já estás demasiado longe das perguntas que te competem, deixa-as para os físicos que te as quiserem emprestar e arranjar uma resposta que dure o tempo de uma nova pergunta, como assim são as respostas da ciência, certas até serem erradas. Que a minha mão seja sempre visível e que transforme não o mundo das coisas, mas nós no mundo, que ajude os outros a encontrarem o seu lugar no Cosmos, neste circulo interminavelmente bem ordenado. Afinal tenho de agradecer à academicista em questão por, na confusão do seu pensamento erudito, me ter levado até à contemplação deste vasto universo.
E é no fim de todo este pensamento, que me apercebo que, de helenística, só tenho mesmo a horta.


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