13 de outubro de 2013

Sede

Ainsi nous ne vivons jamais, mais nous espérons de vivre ; et, nous disposant toujours à être heureux, il est inévitable que nous ne le soyons jamais. Pascal

Invejo todos só por não serem eu. E eu, o que sou? Já não sei, afoguei-me em amor e esqueci-me de me projectar no futuro. Tinha tanta fome dele, delas, e dos outros que fiz dessa fome a minha única razão de viver. Porém, tão rápido quanto chegaram, partiram, e o Tudo revelou-se frágil, pois o vazio deixado fora sempre preenchido por outra pessoa, por um Deus maior.
O tempo e importância que consagro a esta vertente da minha vida é deveras alarmante, julgo ver sempre na pessoa em questão a única cura para o meu mal, quando na verdade, é apenas mais uma doença que vem para me prender nesta espiral de tristeza sem fim. Desesperança. É o que sinto face à vida. Desesperança. Sou diferente deles, como sempre quis ser, mas será esta a maneira certa de viver a vida? Na verdade, há mais de quatro anos que me afogo em amor, e durante esse período, vários seres desfilaram, todos eles com traços divinos, e a cada um que passava, com ele a certeza de que nascera para o encontrar. E agarrava-me como em tempos de guerra se agarram a um prato de sopa, e o meu olhar tresandava a loucura, e tudo em mim crescia, as pulsões acordavam, e tudo ardia. Um verdadeiro orgasmo emocional, que preenchia páginas e páginas de livros que nunca escrevi, e que ansiava um dia atingir o ideal que aquele ser trazia. Mas o ideal vivia na minha cabeça, tanto antes de me deparar com qualquer um desses seres, e nunca esse ideal se adaptou a nenhuma história, pois o fim chegou, e com ele a certeza da impossibilidade de uma vida a dois. Frágil, como tudo na vida. E esta angústia cada vez mais presente no meu ser. Para onde vou...? Vivo o presente, como todos eles não vivem, aqueles que levam o dia à dia em busca de algo que nunca virá, que confundem os objectivos, que passam a fazer da carreira um fim a atingir, e não um meio para ser feliz. Eu não, nunca quero trabalhar para ninguém. Trabalhar para um dia poder deixar de o fazer? Quando lá chegar já serei velha e débil, e toda a minha vida terá sido consagrada a algo que se limitou a roubar-me horas, horas de felicidade suprema, de orgias de meia noite, de banquetes de luxuria, de gritos estridentes, de todo aquele sentir que me da asas para ver o mundo de cima e me leva a acreditar que um dia poderei dominá-lo.
Esta sede de sentir, acabará um dia por me destruir...

Ce que les hommes nomment amour est bien petit, bien restreint et bien faible, comparé à cette ineffable orgie, à cette sainte prostitution de l'âme qui se donne tout entière, poésie et charité, à l'imprévu qui se montre, à l'inconnu qui passe. Charles Baudelaire 


1 comentário:

Anónimo disse...

Entre o conhecimento do bem e do mal há uma grande diferença: o mal conhece-se quando se tem e o bem quando se teve; o mal, quando se padece, o bem, quando se perde.