27 de setembro de 2013

De súbito entra em mim um enorme desejo de evasão. Porque fiquei quando todos os outros partiram? Talvez me esquecera desta imagem tão tenebrosa de uma Lisboa cinzenta e deserta, que perde o seu esplendor quando a rotina se impõe, uma rotina de desassossego, prisioneira de obrigações e de horários, uma Lisboa despercebida. Tudo cheira a saudade, saudade daquela estação isenta de obrigações, daqueles que davam cor a estas ruas, dos dias que se construíam aleatoriamente em função das caras que cruzava. Uma vida cheia, que face ao perigo encontrava conforto num leito tão familiar, rodeada de pessoas que combatiam a meu lado contra o cansaço e contra aquilo que nos queria deitar a baixo.
Sinto-me só, plenamente só, vejo que todos estão a avançar, a criar novos laços, a descobrirem um mundo novo, e eu estou aqui, agarrada ao que conheço, não me querendo dar àqueles que não me são familiares, por saber que há demasiado que nos afasta, quinze anos que nos separam, quinze anos de recordações numa casa que nos fechou dentro dela, com vista para França, mas tão pouca para Portugal, que provocou um enorme choque cultural quando as portas se abriram e nos deixaram voar. Mas voar para onde? Tudo o que conhecíamos era aquilo...
Do meio do nevoeiro apareces tu, todos os dias, para me salvar desta depressão que se quer impor, vens e Lisboa volta a ter cor e música. E não há ninguém tão capaz como tu, todos me parecem acessórios, e do meu egoísmo nasce a vontade de te dar o mundo. Mas um dia... um dia não virás... e do nevoeiro chegará a mágoa, apenas a mágoa... e ninguém para me salvar...
Temo o dia em que te fores embora, temo-o tão fortemente.

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