9 de agosto de 2012

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Sempre pensei que a mágoa me fosse trazer inspiração, e que o trauma só alimentaria as minhas palavras, e sempre procurei um trauma sem saber que me perseguiria diariamente e me assombraria com tanta intensidade. Acabou por vir, o trauma hoje existe em mim, vive comigo há uns dias e lamento tê-lo chamado. Ele agarra-se à minha mente com os seus tentáculos e destrói qualquer tentativa de abstracção. Só penso nele, vejo e revejo aquela imagem na minha mente vezes sem conta, aquele sussurrar, as expressões e eu imóvel e apática pensando que não estaria a acontecer. As imagens são poucas, as sensações fugiram, guardo apenas um momento que se confunde com um pesadelo. Tive muitos destes sonhos e quando aconteceu não soube distinguir da realidade. Foi fugaz demais para que houvesse espaço para reflexões, foi fugaz demais para que houvesse medo e no meio de tanta fugacidade só houve tempo para um reflexo tardio, para algo que impedisse o que se sucedia.
Ainda hoje me questiono acerca desse momento, ainda hoje pergunto a mim mesma se aconteceu, se é real, se devo estar como estou. Esmiucei a minha memória, procurei organizar tudo cronologicamente, procurei o momento em que perdi a noção das coisas, o momento em que tudo se transformou num pesadelo, um pesadelo real.
Escrevo estas linhas porque vivi, escrevo-as pensando que preferia não tê-las escrito, pensando que preferia não ter sentido, que preferia não saber e que preferia não ter escolhido este modo de vida. E de repente questiono-me acerca da minha escolha, acerca do meu futuro, acerca do que me espera, e acerca do que procurei. Penso que foi um erro, que nenhum título justifica o que eu sinto, que nenhum reconhecimento pode sequer apagar a dor que carrego, que nenhum sonho se alimenta de tal pesadelo.

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