14 de maio de 2012

Independência

É triste chegar a uma casa vazia, é triste cozinhar só para mim, é triste contar apenas comigo para ir para a escola. No entanto também não pretendo com este texto chamar a atenção, é apenas um desabafo como tantos outros. Sinto-me livre e independente, e isso assusta-me por não estar pronta para essa independência. Não tenho vontade de ir para casa, a escola passou a ser a minha única casa. Não quero partir, mas tenho de o fazer, e no meio disto tudo o que mais me assusta é a chegada do verão. São todas as horas que prevejo a delirar no meu leito, sozinha com tantos outros dias pela frente. A solidão assusta-me, é definitivamente o meu maior receio.
E agora cá estou eu diante do meu computador procurando a companhia de muitos outros que não a procuram pois têm uma casa cheia à espera deles. Cá estou eu a evitar os delírios que inevitavelmente virão. Tento distrair-me, vejo um filme, descarrego séries, procuro o cansaço para poder dormir e acordar numa bela manhã de maio. Como dizem, amanhã é um novo dia, e o amanhã é tudo o que tenho. Não quero o presente, não me serve de nada, nem inspiração tenho para escrever, só quero viver, e a vida está no amanhã.
É a esperança pelo amanhã que me faz sorrir e que me da forças para acordar. A rotina que tenho é preciosa e preservo-a cuidadosamente. Podem achar que sou louca por gostar de estar na escola, eu digo que na vossa situação também não gostaria, mas os casos são diferente e por muito que com este texto me esteja a  diferenciar de todos vós, digo-vos que há muitos como eu, sozinhos e entregues a eles mesmos.
Há muito que me libertei dos olhares do outros por achar que isso traria mais confiança, e trouxe, mas hoje ao deparar-me mais uma vez com a solidão apercebo-me de que os outros são tudo o que me resta. Não seria nada sem eles, pois são eles que testemunham tudo o que sou e são eles que cuidam do meu mal: a solidão.
Deixaram-me sozinha, deram-me a independência que todos os adolescentes desejam, mas nenhum deles sabe que não está pronto para a receber, pois todos os adolescentes dependem de algo, seja de amigos, de olhares alheios ou de alguém que os ampare e que os guie. Eu sou apenas mais um caso de uma adolescente que deparada com a sua maior idealização de felicidade, se apercebe que as coisas não são tão coloridas como imaginava, e vêm então as lágrimas e a mágoa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cuidado com o amanha... O amanha é o presente que deixas escapar... E dizes gostar da rotina mas não será dela que te queixas? Não tenhas medo do verão pois quando ele chegar é possível já não teres de voltar todos os dias para uma casa vazia. Durante o verão, mesmo não sendo as pessoas com quem estás todos os dias, vais conhecendo novas caras e as ruas estão cheias de bom humor, de ambiente... ainda te podem vir a surpreender..! De resto este texto mostra também uma adolescente com uma grande ambição e talento, e olha que nem todos os adolescentes que voltam para casas cheias têm essa sorte! Há sempre dois lados numa história: lado negativo e lado positivo, não olhe só para um deles.

Anónimo disse...

O nosso mal é não sabermos o que queremos. Não conseguirmos distinguir naturalmente vontade e capricho. A liberdade é tão desejada e tão desaproveitada. Ela pode levar-te a conquistar muita coisa... Mas é preciso agarrá-la. E ela foge.
A inercia é-lhe próxima e é o que nos troca as voltas.
Boa sorte!