9 de abril de 2012

Uniformidade

É engraçado de ver como mudei ao longo deste anos. Deixei para trás todo o peso de uma infância difícil e acreditei em algo inimaginável. Guardo muitas memórias dos tempos em que era frágil, tempos em que desejava soltar-me. Tinha tanto para dar, só não sabia como. No entanto guardo ainda mais memórias de quando mudava, de quando tudo me parecia arriscado e todos os olhares se direccionavam para mim. Tudo o que fazia era pensado pois tinha sempre a sensação de que estava a ser observada. Era pequena para lidar com olhares alheios e com injúrias, era grande demais para não ser vista. 
Na rua, todos se riam, nunca percebi se se riam de mim ou para mim, pois sempre aceitei que fosse de mim. Pouco a pouco procurei soltar-me deste peso e fui ignorando o mundo que me rodeava, centrando-me no meu ser. Foi difícil de adquirir algum egoísmo, foi difícil de encontrar a chave. 
Fugia das crianças como quem foge de uma doença, tinha medo da sinceridade e de toda a inocência que as fazia debitar as mais diversas opiniões, e nunca quis ouvir o que as pessoas tinham a dizer a meu respeito. Ainda hoje fujo às opiniões, porque hoje, tudo o que faço tende a ser pensado, e raramente aceito que o meu pensamento esteja errado.
Hoje adoro crianças, soltei-me do medo que me separava delas, hoje sou apenas fácil de atingir por aquilo que não se vê. As crianças já não se questionam sobre o meu sexo e já não gozam com o meu cabelo, as crianças gostam do meu sorriso e não encontram defeitos tão rapidamente. 
Sou uma pessoa mais forte na integralidade, alcancei aquilo que queria. Nunca quis ser perfeita, sempre quis ser apenas regular. Dessa forma poderia ser confundida no meio da multidão, poderia viver livremente sem estar presa na mente de desconhecidos. Ninguém olha para aquilo que é à primeira vista igual, todos avaliam o que é diferente. E eu não nego a minha diferença, simplesmente estou saturada de cruzar-me com tantos olhares. Odeio movimentos de grupo, e sempre critiquei o que é uniforme, mas se "toda a gente" gosta de uma coisa, não será porque essa coisa é boa? De qualquer maneira, não sou alguém que se deixa influenciar pela norma, mas o que acabo de relatar é exclusivamente em termos físicos. Porque a exuberância e a excentricidade é só para os mais solitários, eu fico-me pelo banal afim de evitar a saturação e o contágio. 

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